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Quando coisas violentas são mascaradas pelo manto da ingenuidade.


A música como meio de perpetuar violência - Divulgação


Como homem ciumento eu sofro quatro vezes: por ser ciumento, por me culpar por ser assim, por temer que meu ciúme prejudique o outro, por me deixar levar por uma banalidade; eu sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum. (Roland Barthes)

A música é uma arte antiga usada, especialmente, para expressar sentimentos. De suma importância para a humanidade, Nietzsche dizia que "sem a música a vida seria um erro" ou que "não podemos acreditar em um deus que não saiba dançar". Não é por acaso que hoje existe a musicoterapia e, segundo especialistas nesta área, tal terapia emprega instrumentos musicais, canto e ruídos para tratar pessoas com distúrbios da fala e da audição ou deficiência mental. Atua, também, na área de reabilitação motora, no restabelecimento das funções de acidentados ou de convalescentes de acidentes vasculares cerebrais.

Como se vê, a música é importante para a humanidade e serve para muitas coisas... Inclusive para legitimar preconceitos e propagar violência. Trago, por exemplo, uma música antiga (do meu tempo de criança!) e que contém uma mensagem muito forte de violência contra a mulher. E pasmem: era cantada por crianças; inclusive esta música elevou a carreira delas. Qual música é? O nome é "Maria Chiquinha", cantada pela dupla Sandy & Júnior.

A música tem uma melodia gostosa, é engraçadinha, mas talvez poucas pessoas pararam para ver do que realmente ela trata.

É simples:

Maria Chiquinha era casada com Genaro, a quem ela carinhosamente chamava de "meu bem". Acontece que a Maria andava se perdendo pelos matos e Genaro desconfiou. Genaro perguntava:

- Que c'ocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha? Quem é que tava lá com você?

Ela respondia:

- Eu precisava cortar lenha, Genaro, meu bem; e eu estava com Sinhá Dona.

Genaro, malandro que era, dizia:

- Eu nunca vi mulher de bigode, Maria Chiquinha!

E assim a briga estava formada e..., como quase sempre, acaba feio para a mulher. Maria Chiquinha caiu na mentira, pois esta tem perna curta, e escutou de Genaro – o homem a quem ela chamava de "meu bem":

- Eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha!

Assustada, ela pergunta:

- E o que você vai fazer com o resto?

- O resto? Pode deixar que eu aproveito! Disse Genaro.

Que enredo bizarro, heim? Um homicídio qualificado por meio cruel (CP. 121, § 2º, III) e que foi motivado por ciúme – palavra cujas origem remete ao vocábulo grego zelos, o qual significa fervor, calor, ardor ou intenso desejo.

É verdade: ciúme todo mundo tem.

Freud dizia que

"O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais. Se alguém parece não possuí-lo, justifica-se a inferência de que ele experimentou severa repressão e, consequentemente, desempenha um papel ainda maior em sua vida mental inconsciente.

Não ter ciúme é a manifestação de alguma doença do ser, alguma repressão. É normal, pô. O problema é quando, aliado ao ciúme, temos a ideia, tão histórica e enraizada, de que a mulher é propriedade do homem. Neste caso, o ciúme se torna um fevor, calor, ardor ou intenso desejo de ser dono do outro e de não permitir que o outro siga a sua vida por outros caminhos. Aliás, dizia Rubem Alves: O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente. E dizia mais o Rubem:

O apaixonado que desconfia quer manter sob controle até o pensamento do ser amado. Diante de tamanha impossibilidade, ele se tortura e quer o outro cerceado. É a antítese do amor.


Assim, esta música cantada pelos guris Sandy & Júnior revela fatores realmente interessantes da sociedade – da época e com fortes resquícios na nossa:

O ciúme está presente na humanidade;
Há estágios do ciúme onde o zelo torna o outro propriedade;
O ciúme mata; e
O mais importante: a gente cantava uma música com clara violência doméstica, contra a mulher, com a maior naturalidade e felicidade.
Eu sei que algumas pessoas vão dizer que analisar a música assim é puro vitimismo, que hoje "não se pode mais nem falar nada que a patrulha chega", e etc. Eu sei que vão falar isto; mas pare, olhe e pense: quem reclama que hoje não se pode mais falar nada é justamente quem tinha, antes, o privilégio de ofender impunemente qualquer pessoa. Não estou querendo com isto impedir que pessoas escrevam bobagens e ofendam. Defendo o direito do mais estúpido do mundo se manifestar – contanto, claro, que este aceite, sem choro, a crítica dos que são ofendidos e não mais se calam.


É preciso, sim, desmascarar toda a arte usada para agredir e perpetuar violência simbólicas ou físicas. E parafraseando o Nietzsche: "sem música a vida seria um erro, mas têm músicas que, por não respeitar a dignidade da vida alheia, são o próprio erro".




Dicas de Leitura:

Freud, S. (1922-1989). Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo.
ALVES, Rubem. O Ciúme (Crônica)
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso.

Por Wagner Francesco
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