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31 de março - O Golpe Militar de 1964 (madrugada de 1º de abril).



O Golpe Militar de 1964 redesenhou o panorama político, social, econômico e cultural brasileiros pelas duas décadas seguintes. Executado no dia 31 de março daquele ano, o golpe levou à deposição de João Goulart e fez se instalar no país uma ditadura militar que durou até o ano de 1985.


Apesar de ter ocorrido no ano de 1964, o golpe passou a ser desenhado desde as primeiras medidas de João Goulart, conhecido como Jango. O cenário de sua posse em 07 de setembro de 1961 já era conturbado: desestabilidade política, inflação, esgotamento do ciclo de investimentos do governo Juscelino Kubitschek, grande desigualdade social e intensas movimentações em torno da questão agrária. Diante desse cenário e de acordo com suas tendências políticas, declaradamente de esquerda, Jango apostou nas Reformas de Base para enfrentar os desafios lançados a seu governo.

As Reformas de Base propunham diversas reformas: urbana, bancária, eleitoral, universitária e do estatuto do capital estrangeiro. Dentre elas, três incomodavam de forma especial à direita. A reforma eleitoral colocaria novamente no jogo político o Partido Comunista e permitiria que analfabetos votassem, o que correspondia a 60% da população brasileira. Essas medidas poderiam provocar grandes mudanças no equilíbrio dos partidos políticos dominantes naquele contexto. A reforma do estatuto do capital estrangeiro também provocou polêmica ao propor nova regulamentação para a remessa de lucros para fora do Brasil e propunha a estatização da indústria estratégica. Mas nenhuma delas foi alvo de tantas especulações e mitos quanto a proposta de implementação da reforma agrária. Essa reforma mexeria com a histórica estrutura latifundiária brasileira que, em muitos casos, remontavam aos séculos de colonização.
 
Para os grupos economicamente hegemônicos, tais propostas eram alarmantes não apenas por serem defendidas pelo Presidente da República, mas porque naquele momento a esquerda encontrava-se unida e organizada, movimentando-se em todo o território nacional e mostrando sua cara e seus objetivos em passeatas, publicações e através de forte presença no meio político. Longe do imaginário do século XIX, a esquerda daquele momento era formada por uma grande diversidade de grupos, tais como comunistas, católicos, militares de diferentes ordens, estudantes, sindicalistas entre outros. Todos eles voltados para a aprovação das Reformas de Base e estendendo suas influências por diversos campos da vida pública.

Diante desse abismo entre os grupos de direita e de esquerda durante o Governo de Jango, o golpe começou a ser elaborado pelos grupos conservadores e pelas Forças Armadas em diálogo com os EUA (Estados Unidos da América) através da CIA (Central Intelligence Agency) pensando nas eleições de 1962 para o Congresso Nacional e para o governo dos estados da União. A composição que assumiria no ano seguinte seria de vital importância para os avanços das propostas da esquerda e, por isso, interessados na queda de Jango financiaram de forma ilegal campanhas de candidatos de oposição ao governo. Esse financiamento foi realizado pelo empresariado nacional e estrangeiro através do IBAD (Instituto Brasileiro da Ação Democrática). Os EUA também investiram nessa campanha através de fontes governamentais, como provam documentos e áudios da Casa Branca. Nesse contexto o diplomata Lincoln Gordon participou ativamente da conspiração, trabalhando juntamente ao IBAD e ao IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), responsáveis por diversas propagandas anticomunistas que contribuíram para a desestabilização de um governo que já enfrentava diversos desafios.

Em 1963, a votação favorável ao retorno do presidencialismo deu novos ânimos ao governo de Jango que, apesar das ações contrárias, ainda se mostrava com grande popularidade. Mesmo assim, o ano de 1963 foi marcado por intensa atuação da direita e da esquerda e esse embate começou a ser favorável a direita a partir da derrota da emenda constitucional que buscava viabilizar a reforma agrária. Outro fato que abalou Brasília em 1963 foi a Rebelião dos Sargentos na qual sargentos da Aeronáutica e da Marinha invadiram o Supremo Tribunal Federal em protesto contra a declaração de inelegibilidade dos sargentos eleitos em 1962.

O cenário ficou ainda mais conturbado após a entrevista concedida por Carlos Lacerda a um jornal norte-americano, no qual declarou que o cenário político brasileiro sob o governo de Jango era de incertezas, ato que foi visto com maus olhos pelo presidente e o levou a solicitar ao Congresso a instalação do estado de sítio. Sua atitude foi vista de forma negativa pelos governadores dos estados que lhe recusaram apoio. Uma nova coligação entre PTB, UDN e PSD mostrou ter a mesma posição, o estado de sítio não seria aprovado pelo Congresso. Desse embate, Jango saiu com seu poder abalado.

Com inflação anual na casa de 79,9%, um crescimento econômico tímido (1,5%) o Brasil passou a sofrer restrições dos credores internacionais. Nesse contexto, os EUA passaram a financiar o golpe através dos governos dos estados de São Paulo, Guanabara (atual Rio de Janeiro) e Minas Gerais. Frente às pressões sofridas nos meses que se seguiram, Jango articulou o Comício da Central do Brasil. Ocorrido em uma sexta-feira, 13 de março de 1964, o evento esteve cercado de simbologias que o ligavam a figura de Getúlio Vargas e mobilizou entre 150 e 200 mil pessoas por mais de 4 horas de duração. Como havia se comprometido em seu discurso, Jango encaminhou ao Congresso o pedido de convocação de um plebiscito para a aprovação das reformas sugeridas e a delegação de prerrogativas do Legislativo para o Executivo, o que foi visto como uma tentativa de centralização do poder nas mãos do presidente.

Em reação às ações de Jango, o Congresso passou a suspeitar de suas intenções e essa posição repercutiu nos meios de comunicação em um tom que indicava que o presidente poderia a qualquer momento dissolver o Congresso para colocar em prática as reformas na base da força. A partir desse clima de desconfianças e alardes, foi organizada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, preparada pelo IPES sob a figura da União Cívica Feminina com o apoio de setores de direita. A Marcha reuniu cerca de 500 mil pessoas na Praça da República, na capital paulista, em protesto contra o governo de Jango e suas pretensões, classificadas como comunistas. Sendo um movimento prioritariamente de classe média, a Marcha foi menosprezada pela esquerda, mas demonstrou seu poder em converter a opinião pública a respeito de João Goulart em diversas capitais, alastrando-se pelos estados com a contribuição dos meios de comunicação.

Ainda faltava a unificação das forças militares em favor do golpe, o que foi provocado pelas atitudes tomadas por Jango em relação aos marinheiros que participaram da Revolta dos Marinheiros, realizada em 25 de março. Ao anistiar os revoltosos e passar por cima das autoridades militares responsáveis, Jango deu o último elemento necessário à realização do golpe de 1964: o apoio das Forças Armadas. Os EUA já estavam a postos para colocar em prática a Operação Brother Sam e, em 31 de março de 1964, o pontapé foi dado pelos mineiros, sob a liderança do general Olympio Mourão Filho, que marchou com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro e iniciou o processo de deposição do presidente João Goulart com o apoio dos EUA e das Forças Armadas. O Golpe foi concluído na madrugada de 02 de abril de 1964, quando o Congresso, em sessão secreta realizada de madrugada, declarou a Presidência da República vaga.


Bibliografias:

GOMIDE, Rafael. Com arquivos e áudios da Casa Branca, filme revela apoio dos EUA ao golpe de 64. Último Segundo, 2013. Disponível em: < http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-03-15/com-arquivos-e-audios-da-casa-branca-filme-revela-apoio-dos-eua-ao-golpe-de-64.html> . Acesso em: 05/10/2017.

REIS, Marco Aurélio. A revolta dos marinheiros. O Dia, 2014. Disponível em:<http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2014-03-25/a-revolta-dos-marinheiros.html>. Acesso em: 05 out.2017.

SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. No fio da navalha: ditadura, oposição e resistência. In: Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 437-466.


Arquivado em: Ditadura Militar, História do Brasil


Por Michelle Viviane Godinho Corrêa
Mestre em Educação (UFMG, 2012)
Especialista em História e Culturas Políticas (UFMG, 2008)
Graduada em História (PUC-MG, 2007)


Qual é a melhor forma de organizar as carteiras na sala de aula?

Imagem: ilustração.


Alguns formatos possíveis de organização e quais interações são favorecidas em cada um deles

Imagine uma situação em que você, educador, está na posição de quem aprende. Pode ser em um congresso, curso ou formação – até mesmo aquelas reuniões da secretaria. O que você prefere: passar todo o tempo sentado em intermináveis fileiras ou assumir uma postura mais participativa, com discussões em grupos ou círculos? "Os professores gostam de sair da 'pedagogia da nuca' – em que todos se vêem de costas – e interagir com os colegas. Mas quando você pergunta se fazem isso nas suas salas, pouquíssimos fazem", comenta Célia Senna, formadora de professores da consultoria INovAÇÃO.


A discussão sobre qual seria a melhor maneira de organizar os alunos na sala de aula acompanha a evolução da Pedagogia nas últimas décadas. O modelo tradicional, de fileiras individuais justapostas em linhas paralelas, tem sido posto em xeque por limitar o ensino à aula expositiva e não favorecer a interação entre alunos e entre estes e os professores. "No Brasil, em redes nas quais as concepções construtivistas entraram com mais força, a transformação da organização mais convencional em grupos ou círculos tornou-se a regra", conta Cláudia Dalcorso, sócia-fundadora da Elos Educacional.

Afinal, existe formato ideal? "Na verdade, isso depende da intencionalidade pedagógica, isto é, dos objetivos que o docente espera que os alunos alcancem", explica Marília Novaes, formadora de gestores da Comunidade Educativa Cedac. Segundo ela, não se trata de adotar um e abandonar o outro para garantir melhor aprendizado. "A sala pode e deve mudar conforme a necessidade do momento", defende.

O ponto central na escolha do formato deve contemplar o desenvolvimento de habilidades de colaboração e troca entre os colegas – o que nem sempre é fácil para quem está habituado à estrutura tradicional de sala de aula. Para compreender melhor as propostas e implicações de cada forma de organização, listamos as vantagens que oferecem no processo de ensino-aprendizagem.

Fileiras individuais ou U (meia-lua)

Os dois formatos permitem que o educador trabalhe aulas expositivas, apresentações em vídeo, filmes e situações em que é necessário o apoio da lousa. O esquema tradicional, porém, tem seus críticos. "Colocamos os alunos durante cinco horas olhando um para a nuca do outro e queremos que se sintam estimulados?", questiona Célia Senna. Para a especialista, a meia-lua ou U sai na frente. "Quando o aluno vê a sala como um todo, consegue interagir mais com os colegas, o que é muito favorável para a aprendizagem".



Esse formato proporciona contato visual entre todos os presentes e favorece o debate coletivo, além de manter a possibilidade de foco no professor e na lousa – que não precisa ser demonizada. Há momentos em que a lousa é a opção mais eficiente para apoiar uma explicação ou registrar as questões de uma discussão.

Já Cláudia Dalcorso acredita que há alguma utilidade nas fileiras, especialmente em ambientes espaciais mais limitados. "Em certos momentos, a aula tem um foco central, que pode ser uma exposição oral, um vídeo, o trecho de um filme, e a sala não possui espaço suficiente para acomodar todos os alunos e as mesas em formato de meia-lua".


Outro ponto que pode pesar na escolha tem muito mais a ver com a postura do professor e como ele se conecta à sala de aula. "É preciso considerar que o professor, às vezes, se sente mais confortável ao explicar um conteúdo para a sala em fileiras. Não precisamos descartar o modelo a priori, nem nos amarrarmos a ele", pondera Marília Novaes, da Cedac.

Duplas ou trios

Esse formato é recomendado para uma interação mais direta entre os alunos. "É uma composição muito utilizada em atividades de produção de texto e de alfabetização, em que se podem construir duplas produtivas", explica Claudia. O professor pode, por exemplo, propor uma atividade de escrita juntando um aluno com escrita ortográfica (isto é, que já domina a norma padrão da língua e é capaz de construções mais complexas) e outro que ainda não alcançou o mesmo nível, mas é criativo e pode ajudar na elaboração da história. Também pode unir um aluno alfabético e outro silábico para que troquem conhecimentos, ou ainda estudantes com saberes diferentes de matemática para resolver um problema que exige vários procedimentos.

Célia Senna atenta, no entanto, que na composição ideal, os integrantes das duplas não se sentam um ao lado da outro, mas um  de frente para o outro. O modelo favorece a interação e discussão entre os dois colegas. "Pode parecer só um detalhe, mas dirigir o olhar e a discussão dessa maneira são favorecidos", diz.

Grupos (quatro ou mais alunos)

Os grupos formados por um número maior de alunos são indicados nos casos em que é preciso levantar hipóteses, investigar diferentes itens e pluralizar o olhar sobre o objeto de aprendizagem. Aumentam-se as informações e olhares sobre o processo – com a possibilidade de desenvolver outras habilidades e competências que não são possíveis no trabalho individual. "Trabalhar em grupo – independentemente de você ser chefe ou funcionário – é algo que encaramos ao longo de toda a vida", diz Célia. "As dinâmicas de sala em que há trabalho em equipe favorecem esse desenvolvimento".



Habilidades como negociação, argumentação, responsabilidade compartilhada, divisão e delegação de tarefas são desenvolvidas à medida que as crianças se veem diante dos desafios do trabalho em equipe. Quando a formação de grupos é pontual, ou seja, acontece algumas vezes, é mais difícil desenvolver tais habilidades do que quando se cria uma dinâmica de equipe. "O grupo começa a se autogerir", explica a especialista. "Mas o professor deve observar essa dinâmica para intervir nos grupos em que um aluno, por exemplo, não está colaborando. Isso ajuda tanto esse indivíduo quanto o grupo a se desenvolver".


Para a formadora, a dinâmica de organização da sala vai ganhando agilidade à medida que os estudantes vão se familiarizando com a proposta. Idem para comportamento. "Os problemas de comportamento não são maiores do que quando os alunos estão enfileirados", defende Célia. De acordo com ela, a agitação é maior na formação ocasional de grupos, do que quando estão acostumados a trabalhar com esse formato.  "A questão de ter o 'controle' da turma também não desenvolve a autonomia dos estudantes".

E onde deve ficar a mesa do professor?

No modelo tradicional, a mesa do professor geralmente está localizada à esquerda da lousa, para não atrapalhar a visibilidade.



Saindo do modelo de fileiras, a mesa do professor pode ficar em qualquer lugar da sala, já que ele irá circular entre as equipes. Idem no semicírculo: a mesa fica fora da roda. Isso implica em maior mobilidade para o docente, que mantém os alunos em seu raio de visão, o que estimula o contato.



Por: Pedro Annunciato, Laís Semis (novaescola)



Morre Linda Brown, um ícone na luta contra a segregação racial, uma mulher do Kansas.

Linda Brown, em 1954, no Kansas; após ser recusada em escola pública por ser negra, pai da garota ajuizou processo contra Junta de Educação que culminou no fim de doutrina de segregação nas escolas americanas Foto: AP Photo


Após ser rejeitada em uma escola primária por ser negra, Brown foi o principal nome no processo judicial que pôs fim à divisão que regia a educação pública americana
 

WASHINGTON - Linda Brown, uma mulher do Kansas que na década de 1950 ficou famosa por um processo que proibiu a segregação racial nas escolas dos Estados Unidos, morreu aos 76 anos nesse domingo, 25, segundo a imprensa americana.

Nascida em Topeka, capital do Kansas, Brown tinha nove anos quando o seu pai, o reverendo Oliver Brown, tentou inscrevê-la em 1950 na escola pública primária mais próxima à casa da família.

A recusa da escola Summer School a aceitá-la por ser negra provocou quatro anos mais tarde a histórica decisão do processo "Brown vs. Board of Education" (Brown contra a Junta de Educação), no qual a Suprema Corte dos Estados Unidos pôs fim à doutrina "segregada, mas igual" que regia na educação pública americana desde 1896.

O Tribunal determinou que "separar (as crianças negras) de outras de idade e qualificações similares unicamente pela sua raça gera um sentimento de inferioridade quanto à sua posição na comunidade que pode afetar seus corações e mentes de um modo improvável de reverter".

Além disso, a Corte concluiu que a segregação era uma prática que violava a cláusula de "proteção igualitária" prevista na Constituição.

Embora Brown tivesse dado o nome, o processo agrupava vários casos recompilados pela Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês) de estudantes afro-americanos rechaçados em instituições educativas ao redor do país.

Um porta-voz da funerária de Topeka confirmou à imprensa americana que Brown morreu neste domingo, 25, por razões que não foram informadas.

Em entrevista à emissora "PBS" em 1985, por ocasião do aniversário de 30 anos da sentença, Brown disse sentir que a decisão da Suprema Corte tinha tido "um impacto em todas as facetas da vida das minorias em todo o país".

"Eu penso em termos do que fez para nossos jovens, na eliminação desse sentimento de cidadania de segunda classe. Acho que fez com que os sonhos, as esperanças e as aspirações de nossos jovens sejam hoje maiores", acrescentou.

Embora tenha se tornado um ícone dos direitos civis, o "Brown" que nomeia o processo contra a Junta de Educação pertence ao seu pai, que foi quem levou o caso à Justiça e morreu em 1961. //EFE


Reprodução:@Digitalradiotv

Relatório da UNESCO indica soluções baseadas na natureza para uma melhor gestão da água

    Relatório foi lançado durante evento no Fórum Mundial da Água. Foto: Jorge Cardoso/8º FMA



A infraestrutura cinza, ou seja, aquela construída pelo homem, foi por muito tempo considerada a principal forma de gestão da água no mundo. No entanto, soluções baseadas na natureza muitas vezes podem ser mais eficientes em termos de custo-benefício, de acordo com o coordenador e diretor do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP, na sigla em inglês) da UNESCO, Stefan Uhlenbrook.

Em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) durante o Fórum Mundial da Água, em Brasília (DF), o especialista afirmou que a chamada infraestrutura verde, ou soluções baseadas na natureza, como a agricultura de conservação, é subutilizada globalmente, respondendo por apenas 5% dos investimentos no setor de água.

As conclusões estão no relatório mundial sobre desenvolvimento dos recursos hídricos lançado nesta segunda-feira (19) pela UNESCO. O documento terá sua versão em português publicada na quinta-feira (22).

"As soluções baseadas na natureza não foram muito adotadas porque são consideradas complicadas e caras. Mas é o contrário. As soluções baseadas na natureza podem ter melhor custo-benefício do que as infraestruturas tradicionais construídas pelos seres humanos", disse.

As soluções baseadas na natureza são inspiradas e apoiadas pela natureza e usam, ou simulam, processos naturais a fim de contribuir para o aperfeiçoamento da gestão da água. Segundo Uhlenbrook, essas soluções têm como objetivo purificar a água, assim como desacelerar seus fluxos de forma a reduzir as enchentes ou o impacto das secas.

"Há três principais objetivos que podemos atingir com as soluções baseadas na natureza. Um deles é aumentar a disponibilidade de água, tanto para o consumo como para a agricultura e a indústria", explicou.

Outro objetivo, de acordo com o especialista, é aumentar a qualidade da água, que está se degradando devido a uma série de atividades humanas. O último é reduzir os riscos associados à água, como as secas e enchentes. "Todos são objetivos de gestão da água que podemos atingir com soluções baseadas na natureza e infraestrutura verde", disse.
Produção agrícola

A agricultura consome 70% da água disponível no mundo, a indústria outros 20% – incluindo a geração de energia elétrica – e o consumo doméstico, 10%, lembrou o especialista, em um cenário em que o mundo precisará aumentar em 50% sua produção de alimentos até 2050.

"Precisamos pensar em formas sustentáveis de aumentar a produção agrícola. Podemos fazer isso com sementes melhores e melhores práticas agrícolas. Mas a gestão da água é particularmente importante. Para podermos aumentar a disponibilidade de água para as plantas e a produção agrícola de maneira sustentável, isso tem a ver com a gestão da água nas fazendas", declarou.

O relatório estima que melhorar a gestão da água poderia aumentar a produção agrícola global em 20%. "Localmente, pode aumentar ainda mais, pode até dobrar. Mas depende das circunstâncias. Todos os países podem fazer isso, olhando para os investimentos que precisam ser feitos, equipando os agricultores com o conhecimento necessário para fazê-lo. É muito mais do que só dar dinheiro, é fazê-los ter a capacidade", declarou.

"É mobilizar recursos humanos, investimento em infraestrutura e em ferramentas socioeconômicas, como governança, arranjos institucionais, regulações, leis. É uma série de coisas que precisam acontecer."
Lançamento do relatório

O lançamento do relatório ocorreu durante painel realizado no Fórum Mundial da Água nesta segunda-feira (19), com a presença da diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay; do vice-presidente da ONU Água, Joakim Harlin; do diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim; e do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.

No evento, Audrey afirmou que a paz é colocada em risco em um cenário de escassez de água e que o relatório se propõe justamente a buscar alternativas já existentes para mitigar esse problema. Segundo ela, o objetivo do documento é apoiar os governos em sua transição para melhores políticas de água. "A mensagem do relatório é alta e clara. Agora é hora de ação. Trabalhar com a natureza e não contra ela", declarou.

"Podemos não estar cientes dos serviços que a natureza nos proporciona. Podemos mimetizá-los. Muito da gestão de água é encontrada na natureza. Precisamos adotar soluções integradas à natureza na gestão da água", disse Harlin, da ONU Água, durante o painel. Para Solheim, da ONU Meio Ambiente, casos de sucesso em gestão da água precisam ser replicados globalmente.

Organizado a cada três anos, o Fórum Mundial da Água é o principal encontro global em que a comunidade de profissionais do setor hídrico e os formuladores de políticas trabalham para estabelecer os planos de ação de longo prazo sobre os desafios relacionados à água. Com mais de 150 países representados, o fórum visa aumentar a conscientização e reforçar o compromisso político com relação ao uso e à gestão da água.

Além do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, este ano acontece a abertura da Década Internacional de Ação "Água para o Desenvolvimento Sustentável" (22 de março de 2018 a 22 de março de 2028). A Década visa fortalecer a cooperação e a mobilização internacionais, a fim de contribuir para a realização dos ODS.

Informações à imprensa

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)

 Ana Lúcia Guimarães e Fabiana Pullen
 (61) 2106-3536, (61) 99966-3287, (61) 2106-3596, (61) 99601-6776
 gcomunicacao@unesco.org.br | a.guimaraes@unesco.org | f.sousa@unesco.org
 www.unesco.org/brasilia

Salário de parlamentar em Genebra é inferior ao de professor; não existe auxílio-moradia



Na Suíça, sem benefícios para os deputados


Guy Mettan, deputado e ex-presidente do Parlamento de Genebra, chega à sede do Poder Legislativo do cantão suíço em sua scooter. Não tem carro oficial. Tampouco tem uma vaga reservada apenas para ele diante do prédio histórico no centro da cidade.

Por vezes, Mettan confessa que vai ao trabalho com um motorista – o que conduz o ônibus público da cidade. Deputado já por 18 anos consecutivos, Mettan levou a reportagem do Estado aos corredores do Grand Conseil, o nome dado ao Parlamento do Cantão.

A região é uma das mais ricas do mundo, tem uma taxa de desemprego de 5,3% e é um dos pilares de um sistema financeiro que guarda em seus cofres trilhões de dólares. Genebra, de forma insistente, entra em todas as listas das cidades mais caras do mundo há anos.

Mas, para não atrapalhar o emprego dos cem representantes do povo, as sessões do Parlamento são todas organizadas no final da tarde, quando o expediente já terminou.

Não apenas o deputado ordinário não conta com um carro oficial, mas tampouco é beneficiado por qualquer tipo de transporte. Uma exceção é feita ao presidente do Parlamento que, caso esteja indo a um evento oficial, tem o direito de usar um veículo oficial. Mas apenas se ele for à reunião na condição de presidente da Câmara e não a título pessoal.

O auxílio-moradia não faz parte dos benefícios. Ao final de quatro anos de mandato, os deputados não ganham uma aposentadoria. Durante anos no "poder", não podem contratar parentes e ganham um voucher para fazer duas refeições por mês. Cada uma delas de 40 francos suíços (R$ 137). "Dá para uma pizza e um copo de vinho", brinca Mettan.

Na melhor das hipóteses, um deputado em Genebra vai somar um salário anual de 50 mil francos suíços (o equivalente a R$ 172 mil), cerca de 4,1 mil francos por mês. Isso se ele for o presidente do Parlamento e comparecer a todas às sessões. O cálculo de quanto Mettan e todos os demais recebem a cada mês é feito por hora. "Se você vem, você recebe. Se não, não recebe", disse o deputado, que conta que precisa assinar com seu próprio punho uma lista de presença a cada reunião.

Transformado em reais, o valor pode até parecer elevado. Mas, hoje, o pagamento ao presidente do Parlamento de Genebra é inferior à média de um salário de um fabricante de queijo, menor que a renda de um mecânico de carros na Suíça, de uma secretária, de um policial, de um carpinteiro, de uma professora de jardim de infância, de um metalúrgico e de um motorista de caminhão. Ele, porém, é equivalente ao salário médio de um açougueiro da cidade alpina.

Para um deputado "ordinário", o salário é muito inferior ao do presidente do Parlamento. Por ano, eles chegam a receber cerca de 30 mil francos suíços, o equivalente ao pagamento médio atribuído a um artista de circo ou a um ajudante de cozinha, postos ocupados em grande parte por imigrantes.

No Brasil, o salário de um deputado estadual chega a R$ 25.300 por mês em São Paulo, por exemplo. Além disso, os parlamentares brasileiros têm direito a uma verba mensal (o chamado 'cotão'), que pode superar R$ 30 mil, para custeio de gastos de alimentação, transporte, passagens aéreas e despesas de escritório.

Empregos originais

Mettan explica que a função de deputado consome apenas 25% do seu tempo de trabalho e que, por conta do salário baixo, todos são orientados a manter seus empregos originais, mesmo depois de eleitos.

"Na Suíça, a política é considerada como um envolvimento popular", explicou. "É um sistema de milícia. Ou seja, não é um sistema profissional. Somos obrigados a ter um emprego paralelo, de ter uma profissão paralela. Não se pode viver com essa indenização", admitiu o deputado suíço. "Não existe deputado profissional", completou ele.

Jamil Chade, correspondente / Genebra, O Estado de S.Paulo
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
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