|                    Alterações                              no volume e periodicidade das precipitações                              e mau uso dos aquíferos estão entre os                              fatores que secam os canos de parte do                              Brasil                           A Amazônia                            não é apenas a maior floresta tropical que                            restou no mundo. Esse sem-fim de verde                            entrecortado por rios serpenteantes de                            tamanhos e cores variados também não se limita                            a ser a morada de uma incrível diversidade de                            animais e plantas. A floresta amazônica é                            também um motor capaz de alterar o sentido dos                            ventos e uma bomba que suga água do ar sobre o                            oceano Atlântico e do solo e a faz circular                            pela América do Sul, causando em regiões                            distantes as chuvas pelas quais os paulistas                            hoje anseiam. Mas o funcionamento dessa bomba                            depende da manutenção da floresta, cuja porção                            brasileira, até 2013, perdeu 763 mil                            quilômetros quadrados (km2) de sua                            área original, o equivalente a três estados de                            São Paulo. Antonio Donato Nobre, pesquisador                            do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais                            (Inpe), não aponta o dedo para culpados. O que                            importa para ele é reverter esse processo e                            não apenas zerar o desmatamento, mas recuperar                            a floresta. No relatório O futuro                                climático da Amazônia, divulgado                            no fim de outubro, ele deixa claro que o único                            motivo para não se tomarem providências                            imediatas para reduzir o desmatamento é                            desconhecer o que a ciência sabe. Para ele, o                            caminho é conscientizar a população. "Agora é                            um bom momento porque as torneiras estão                            secando", afirma.                           No                            relatório, elaborado a partir da análise de                            cerca de 200 trabalhos científicos, ele mostra                            que a cada dia a floresta da bacia amazônica                            transpira 20 bilhões de toneladas de água (20                            trilhões de litros). É mais do que os 17                            bilhões de toneladas que o rio Amazonas                            despeja no Atlântico por dia. Esse rio                            vertical é que alimenta as nuvens e ajuda a                            alterar a rota dos ventos. Nobre explica que                            os mapas de ventos sobre o Atlântico mostram                            que, no hemisfério Sul e a baixas altitudes, o                            ar se move para noroeste na direção do                            equador. "Na Amazônia a floresta desvia essa                            ordem", diz. "Em parte do ano, os ventos                            alísios carregados de umidade vêm do                            hemisfério Norte e convergem para                            oeste/sudoeste, adentrando a América do Sul."                           Essa                            circulação viola um paradigma meteorológico                            que diz que os ventos deveriam soprar das                            regiões com superfícies mais frias para                            aquelas com superfícies mais quentes. "Na                            Amazônia, o ano todo eles vão do quente, o                            Atlântico equatorial, para o frio, a                            floresta", explica. Uma parceria com os russos                            Anastasia Makarieva e Victor Gorshkov, do                            Instituto de Física Nuclear de Petersburgo,                            tem ajudado a explicar do ponto de vista                            físico os fenômenos meteorológicos da                            Amazônia. Em artigo publicado em fevereiro de                            2014 no Journal of Hydrometeorology,                            eles afirmam, com base em análises teóricas                            confirmadas por observações empíricas, que o                            desmatamento altera os padrões de pressão e                            pode causar o declínio dos ventos carregados                            de umidade que vêm do oceano para o                            continente. O grupo analisou os dados de 28                            estações meteorológicas em duas áreas do                            Brasil e viu que os ventos que vêm da floresta                            amazônica carregam mais água e estão                            associados a maiores índices de chuvas do que                            ventos que partem de áreas sem floresta e                            chegam à mesma estação.                           Isso                            acontece, segundo os pesquisadores, por causa                            da bomba biótica de umidade, uma teoria                            proposta pela dupla russa em 2007 para                            explicar a dinâmica de ventos impulsionada por                            florestas. Essa ideia completa a descrição                            feita pelo  climatologista José Antonio                            Marengo, à época pesquisador do Inpe, de como                            a Amazônia exporta chuvas para regiões mais                            meridionais da América do Sul. A teoria da                            bomba biótica aplica uma física não usual à                            meteorologia e postula que a condensação da                            água, favorecida pela transpiração da                            floresta, reduz a pressão atmosférica que suga                            do mar para a terra as correntes de ar                            carregadas de água.                                                     Os                              fundamentos da influência da condensação                              sobre os ventos foram apresentados em artigo                              publicado em 2013 por Anastasia e Gorshkov,                              em parceria com Nobre e outros                              colaboradores, na Atmospheric Chemistry and Physics, uma das                              revistas mais importantes da área. Por meio                              de uma série de equações, eles mostram que o                              vapor de água lançado à atmosfera pela                              transpiração da floresta gera, ao condensar,                              um fluxo capaz de propelir os ventos a                              grandes distâncias. De acordo com Nobre, a                              nova física da condensação proposta por eles                              gerou, ainda durante a revisão do artigo,                              uma controvérsia com meteorologistas, que                              debateram o assunto furiosamente em blogs científicos                              com a intenção de derrubar a principal                              equação do trabalho. Não conseguiram e o                              trabalho foi publicado. O pesquisador do                              Inpe explica a polêmica. "É uma física que                              atribui à condensação, um fenômeno básico e                              central do funcionamento atmosférico, um                              efeito oposto ao que se acreditava", diz.                              "Será necessário reescrever os livros                              didáticos da área."                           Para dar a                            dimensão da dificuldade de diálogo entre                            físicos teóricos e meteorologistas, Nobre                            lembra que a física desenvolve um entendimento                            dos fenômenos atmosféricos a partir de leis                            fundamentais da natureza, enquanto a                            meteorologia o faz, em grande parte, com base                            na observação de padrões do clima do passado,                            cuja estatística é absorvida em modelos                            matemáticos. Tais modelos representam bem as                            flutuações climáticas observadas, mas                            apresentam falhas quando há alterações                            significativas no padrão.                           É o caso                            agora, quando um novo contexto – ocasionado                            por desmatamento, mudanças globais no clima ou                            outros fatores – gera fenômenos climáticos                            inesperados para certas regiões, como chuvas                            mais torrenciais e secas mais extensas. A                            teoria física acerta onde extrapolações do                            passado erram, por isso é preciso, segundo                            ele, construir novos modelos climatológicos                            que recoloquem a física no centro dos esforços                            da meteorologia.                           O momento                            agora é crucial porque o clima amazônico vem                            mudando. Secas importantes nessa região                            marcaram os anos de 2005 e 2010. "Antes a                            Amazônia tinha a estação úmida e a mais úmida,                            agora há uma estação seca", diz Nobre. Os                            danos dessas secas na floresta não foram                            aniquiladores porque ela consegue se                            regenerar, mas o acúmulo dos danos aos poucos                            erode essa capacidade. Um efeito importante                            que já se observa, previsto há 20 anos por                            modelos climáticos, é um prolongamento da                            estação seca, que tem prejudicado a produção                            agrícola em porções do estado do Mato Grosso.                            A grande preocupação é que se chegue a um                            ponto de não retorno, em que a floresta já não                            consiga produzir chuva suficiente para suprir                            nem a si própria. Trabalhos de modelagem que                            levam em conta clima e vegetação indicam que                            esse ponto será atingido quando 40% da área                            original de floresta for perdida, um número                            que não é unânime. Segundo o relatório de                            Nobre, 20% da floresta já foi cortada e outros                            20%, alterados a ponto de terem perdido parte                            de suas propriedades.                           Rios voadores: correntes de                              vapor-d'água que se formam sobre a floresta                              amazônica exportam chuvas para a região Sul                              do Brasil                           Se a                            teoria da bomba biótica estiver correta, os                            efeitos desse ponto de não retorno devem ser                            mais graves do que a savanização proposta pelo                            climatologista Carlos Nobre, irmão mais velho                            de Antonio (ver Pesquisa                              FAPESP nº 167).                            "Se a floresta perder a capacidade de trazer a                            umidade do oceano, a chuva na região pode                            cessar por completo", diz o Nobre caçula. Sem                            água para sustentar uma savana, o resultado                            poderia ser uma desertificação na Amazônia. Se                            isso ocorrer, o cenário que ele infere para o                            Sul e o Sudeste do país poderia ser semelhante                            ao de outras regiões na mesma latitude:                            tornar-se um deserto.                           Antonio                            Nobre não se arrisca a falar muito sobre São                            Paulo. "Meu relatório é sobre a Amazônia." Mas                            ele acredita que a seca por aqui não independe                            do que acontece no Norte. Em sua opinião, foi                            possível devastar boa parte da mata atlântica                            sem sentir uma redução nas chuvas porque a                            Amazônia era capaz de suprir a falta de água                            na atmosfera local. Mas isso já não parece                            acontecer mais. Ele aproveita o ensejo para                            sugerir que não apenas a floresta amazônica,                            mas também a que acompanhava a costa de quase                            todo o Brasil precisa ser recuperada                            imediatamente. Se não for por outro motivo, o                            esgotamento a que chegaram as represas que                            alimentam boa parte da população paulista                            deveria bastar como argumento.                           A                            exportação de água desde a Amazônia para                            outras regiões do Brasil, sobretudo o Sudeste                            e o Sul, é uma realidade, por meio do fenômeno                            conhecido como rios voadores (ver Pesquisa                              FAPESP nº 158).                            Um indício dessa linha direta foram as                            intensas chuvas no sudoeste da Amazônia no                            início de 2014, praticamente o dobro do volume                            habitual, ao mesmo tempo que São Paulo passava                            pelo pior momento de uma seca histórica. "A                            chuva ficou presa em Rondônia, no Acre e na                            Bolívia por causa de um bloqueio atmosférico,                            algo como uma bolha de ar que impedia a                            passagem da umidade. Isso criou uma                            estabilidade atmosférica, inibiu a formação de                            chuvas e elevou as temperaturas", conta                            Marengo, agora pesquisador do Centro Nacional                            de Monitoramento e Alertas de Desastres                            Naturais (Cemaden). Ele é coautor de um artigo                            liderado por Jhan Carlo Espinoza, do Instituto                            Geofísico do Peru, que está em processo de                            publicação pela Environmental                              Research Letters e é parte dos                            resultados do programa Green Ocean (GO)                            Amazon, que tem apoio da FAPESP.                                                     Não é                            possível, porém, afirmar o quanto essa relação                            determina a estiagem paulista. "Ainda não se                            sabe calcular quanto das chuvas do Sudeste vem                            da Amazônia nem quanto chega aqui trazido por                            frentes frias vindas do Sul, pela umidade                            carregada por brisas marinhas ou pela                            evaporação local", diz. Para ele, o                            desmatamento pode ter um impacto no longo                            prazo, mas ainda é impossível dizer se ele                            está relacionado com a seca atual. "O Sudeste                            pode não virar um deserto", pondera, "mas os                            extremos climáticos podem se tornar mais                            intensos". Estudos usando modelos climáticos                            criados pelo grupo de Marengo já previam uma                            redistribuição do total das chuvas, com um                            volume muito grande em poucos dias e estiagens                            mais prolongadas, algo que já tem sido                            observado no Sudeste e no Sul do país nos                            últimos 50 anos.                           Além desse                            efeito a distância, em escala nacional, a                            relação entre vegetação e recursos hídricos                            também se dá numa escala mais local, de acordo                            com o engenheiro agrônomo Walter de Paula                            Lima, professor da Escola Superior de                            Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da                            Universidade de São Paulo (USP) e coordenador                            científico do Programa Cooperativo de                            Monitoramento Ambiental em Microbacias                            (Promab) do Instituto de Pesquisas e Estudos                            Florestais. Em seus estudos sobre o efeito das                            florestas (ou sua remoção) em microbacias                            hidrográficas, ele mostrou que a mata ciliar,                            que acompanha os cursos de água, ajuda a                            manter a boa saúde de pequenos rios. "O                            sistema Cantareira, que abastece São Paulo, é                            formado por milhares de microbacias", conta.                            "As que estão mais degradadas não contribuem                            para o manancial." Essa avaliação, porém,                            carece de dados experimentais concretos.                            Segundo Lima, para se saber exatamente o                            efeito das matas ciliares nos mananciais seria                            necessário estudar uma microbacia experimental                            em que se possa medir propriedades dos cursos                            d'água com e sem a proteção de floresta, sem                            que haja outros fatores envolvidos. Um quadro                            praticamente inatingível.                           Uma                            experiência prática que reforça a importância                            de se preservar as matas ciliares para a                            manutenção dos recursos hídricos é relatada                            pelo biólogo Ricardo Ribeiro Rodrigues, da                            Esalq, especialista em recuperação de                            florestas nativas. Ele conta que há 24 anos a                            água desapareceu da microbacia de                            Iracemápolis, município no interior paulista.                            A prefeitura buscou ajuda na Esalq, e o grupo                            de Rodrigues implementou um projeto de                            conservação de solo da microbacia e de                            recuperação da mata ciliar que deveria estar                            ali. "Fui lá recentemente e levei um susto",                            conta o pesquisador. O nível da represa está                            um pouco mais baixo, mas tem água suficiente                            para continuar abastecendo Iracemápolis, que                            teve sua população triplicada nesse período.                            "Toda a região está com problemas de falta de                            água, mas Iracemápolis não."                           As                            florestas afetam a saúde dos recursos hídricos                            por meio de sua influência nas chuvas, mas                            também tem importância a sua relação com as                            águas subterrâneas. O engenheiro Edson                            Wendland, professor no Departamento de                            Hidráulica e Saneamento da USP de São Carlos,                            estuda justamente o que acontece com a recarga                            do aquífero Guarani quando o cerrado é                            substituído por culturas como pastagem,                            cana-de-açúcar, cítricos ou eucalipto. O                            trabalho tem sido feito na bacia do Ribeirão                            da Onça, no município de Brotas, interior                            paulista, estudada desde os anos 1980.                           No fim de novembro o sistema                              Cantareira tinha água no reservatório Paiva                              Castro…                           Por meio                            de poços de monitoramento e estações                            climatológicas, a ideia é detalhar, antes que                            não sobre mais vegetação original de cerrado                            por ali, como se dá a recarga do aquífero                            Guarani sob diferentes regimes de uso do solo.                            "Não é possível gerenciar o que não se                            conhece", diz Wendland sobre uma das fontes de                            água subterrânea mais importantes do Brasil. O                            aquífero é uma camada porosa de rochas na qual                            se infiltra a água das chuvas, depois liberada                            lentamente para os rios. Essa diferença de                            tempo entre o abastecimento e a descarga,                            consequência do trajeto lento da água pelo                            meio subterrâneo, é o que garante perenidade                            aos rios, que dependem dessa poupança hídrica.                           O grupo de                            Wendland tem mostrado, por exemplo, que a                            disponibilidade de água diminui quando se                            substituem as pequenas árvores retorcidas do                            cerrado, adaptadas a viver sob estresse                            hídrico, por eucaliptos, que consomem bastante                            água e em poucos anos atingem o tamanho de                            corte. Medições feitas entre 2004 e 2007                            mostram que as taxas de recarga têm relação                            íntima com a intensidade da precipitação e o                            porte das culturas agrícolas nessa região onde                            o cerrado está praticamente extinto, de acordo                            com artigo aceito para publicação nos Anais da Academia Brasileira de                              Ciências.                           Isso não                            significa, porém, que os eucaliptos sejam                            vilões incondicionais. O impacto de árvores de                            grande porte depende, em parte, da                            profundidade do aquífero no ponto em que estão                            plantadas. Segundo Lima, os mais de 20 anos de                            monitoramento contínuo feito pelo Promab                            mostraram que a relação entre espécies                            florestais e água não é constante. "Onde a                            disponibilidade é crítica, um elemento novo                            pode secar as microbacias", explica. "Mas onde                            o balanço hídrico e climático é bom, a                            diminuição de água nem é sentida." Essas                            conclusões deixam claro que é necessário fazer                            um zoneamento de onde se pode plantar e onde a                            prática seria nociva, um planejamento que não                            existe no Brasil.                           Para                            Wendland, a importância de entender a relação                            entre o cerrado e os aquíferos é crucial                            porque as nascentes da maioria das grandes                            bacias hidrográficas do país estão no domínio                            desse bioma. Além da importância como recurso                            hídrico, algumas dessas bacias – do Paraná, do                            Tocantins, do Parnaíba e do São Francisco –                            são as principais fornecedoras de água para                            geração de energia elétrica no Brasil.                                                     Em pouco                              mais de meio século, metade da área do                              cerrado foi desmatada e deu lugar a                              atividades agrícolas. Para avaliar o efeito                              dessa alteração no uso do solo sobre a                              disponibilidade hídrica, o doutorando Paulo                              Tarso de Oliveira, do grupo de São Carlos,                              fez um estudo usando dados de sensoriamento                              remoto em toda a área desse bioma. Com os                              sensores, é possível avaliar não só a                              alteração da vegetação, mas também                              quantificar as precipitações, os índices de                              evapotranspiração pelas plantas e estimar a                              variação de armazenamento de água. Segundo                              artigo publicado em setembro de 2014 na Water Resources Research, os dados                              indicam uma redução do escoamento por causa                              de atividades agrícolas mais intensas.                           O                            desmatamento e o uso agrícola do solo têm                            importância, mas Wendland afirma que o maior                            problema para a recarga do aquífero hoje é a                            redução nas chuvas. "O aquífero supre a falta                            de precipitação por dois ou três anos, depois                            já não consegue manter o escoamento de base                            nos rios", diz. Nos últimos anos as                            precipitações da estação chuvosa foram abaixo                            da média, o que diz os resultados observados.                            Explica também, segundo ele, fenômenos                            alarmantes como o esgotamento da principal                            nascente do rio São Francisco, que permaneceu                            seca por cerca de três meses e só voltou a                            jorrar água no final de novembro.                           O desafio                            do gerenciamento das águas subterrâneas, que                            representam 98% da água doce do planeta, tem                            outras particularidades em zonas urbanas, onde                            pode ser um recurso crucial. Segundo o geólogo                            Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências                            (IGc) da USP, 75% dos municípios paulistas são                            abastecidos, em parte ou completamente, por                            essas águas. Isso inclui cidades importantes                            do estado, com destaque para Ribeirão Preto,                            onde elas servem a 100% dos mais de 600 mil                            habitantes. Na escala nacional, outras cidades                            completamente abastecidas por águas                            subterrâneas são Juazeiro do Norte, no Ceará,                            Santarém, no Pará, e Uberaba, em Minas Gerais,                            de acordo com o livro Águas                              subterrâneas urbanas no Brasil, em                            processo de publicação pelo IGc e pelo Centro                            de Pesquisa em Águas Subterrâneas (Cepas).                           Surpreendente                            nas cidades é que a água perdida pelo                            abastecimento público vai parar no aquífero.                            "A impermeabilização do solo diminui a                            penetração da água da chuva, mas as perdas                            compensam e superam essa redução e o saldo é                            uma recarga maior onde há cidades, em                            comparação com outras áreas", explica Hirata.                            "Se analisarmos a água de um poço qualquer em                            São Paulo, metade será do aquífero e metade da                            Sabesp." Ele estima que a capital paulista                            tenha quase 13 mil poços, todos particulares,                            muitos ilegais. "Existe uma legislação para                            gerenciamento desse recurso, mas ela não é                            seguida", conta.                           …                                enquanto a seca                             era                                evidente no Jacareí/Jaguari                           Um                            problema causado pelas cidades é a                            contaminação dos aquíferos por nitrato, devido                            a vazamentos no sistema de esgotos. Como a                            descontaminação é cara, os poços afetados                            acabam abandonados. Nas cidades em que são                            usados para abastecimento público, a solução é                            misturar água poluída à de poços limpos para                            que a qualidade total seja aceitável. "Em                            Natal não há mais água suficiente para                            mesclar", alerta Hirata. O subterrâneo é fonte                            de 70% da água na capital potiguar.                           Outro tipo                            de poluição importante vem da indústria, como                            a causada pelos solventes organoclorados. O                            geólogo Reginaldo Bertolo, também do IGc e                            diretor do Cepas, estuda como esse poluente se                            comporta no aquífero abaixo de Jurubatuba, na                            zona Sul paulistana, uma região industrial                            desde os anos 1950. "É um contaminante de                            difícil comportamento no aquífero", conta.                            Nessa rocha dura, onde a água corre em                            fraturas, o composto mais denso do que a água                            se aprofunda e só para quando chega a um                            estrato impermeável. "São produtos tóxicos e                            carcinogênicos." A poluição impede o uso da                            água subterrânea numa região onde a demanda é                            forte.                           Em                            colaboração com pesquisadores da Universidade                            de Guelph, no Canadá, o grupo de Bertolo está                            mapeando esses poluentes para entender como                            ele se comporta e propor estratégias para                            eliminá-lo do aquífero. Para isso, o próximo                            passo é usar um sistema desenvolvido pelos                            canadenses para retirar amostras da rocha e                            instalar poços de monitoramento especiais. "O                            equipamento permite coletar água de mais de 20                            fraturas diferentes numa mesma perfuração",                            afirma. "Vamos fazer um modelo matemático para                            reproduzir o que acontece e fazer                            prognósticos."                           Bertolo                            alerta que é importante mapear melhor as águas                            subterrâneas e analisar sua qualidade, porque                            é um recurso que pode ser complementar nas                            cidades. "A água subterrânea é um recurso                            pouco conhecido." A engenheira Monica Porto,                            da Escola Politécnica da USP, não acredita que                            seja possível expandir muito o uso dessas                            águas na Região Metropolitana de São Paulo. Em                            sua opinião, para ir além dos cerca de 10                            metros cúbicos por segundo (m3/s)                            extraídos dos milhares de poços existentes,                            seriam necessários milhares de novas                            perfurações. "Mas esses 10 m3/s não                            podem faltar, precisamos cuidar deles."                           Monica,                            que já foi presidente e ainda integra o                            conselho consultivo da Associação Brasileira                            de Recursos Hídricos, pensa em maneiras de                            assegurar a segurança hídrica para a                            população. Faltar água está, de fato, entre as                            coisas mais graves que podem acontecer numa                            cidade. "Somos obrigados a trabalhar com uma                            probabilidade de falha muito baixa." Segundo                            ela, em 2009 o governo paulista encomendou a                            uma empresa de consultoria um estudo sobre o                            que precisaria ser feito para garantir o                            suprimento de água. O estudo ficou pronto em                            outubro de 2013, já em meio à mais importante                            crise hídrica da história do estado. Monica                            explica que é impossível considerar a Grande                            São Paulo de forma isolada, porque não há mais                            de onde tirar água sem disputar com vizinhos.                            Por isso, o estudo abrange a megametrópole,                            que engloba mais de 130 municípios e uma                            população de 30 milhões de pessoas.                           As obras                            necessárias à melhoria da segurança hídrica já                            começaram, com um sistema para recolher água                            do rio Juquiá, no Vale do Ribeira, que deve                            ficar pronto em 2018. Está em fase de                            licenciamento ambiental a construção das                            barragens de Pedreira e Duas Pontes, que devem                            abastecer a região de Campinas. "Manaus e                            Campinas são as únicas cidades do Brasil com                            mais de um milhão de pessoas que não têm                            reservatório de água", conta Monica. Não faz                            falta a Manaus, às margens do rio Amazonas,                            mas faz a Campinas, que depende do sistema                            Cantareira. Ela, que em casa "faz das tripas                            coração" para economizar água, afirma que a                            crise atual é importante para conscientizar a                            população sobre a necessidade de se reduzir o                            consumo. Também ressalta a importância do                            conjunto de medidas que precisará ser revisto                            em caráter emergencial. "Temos que aprender                            pela dor", diz Monica, que costuma brincar que                            é melhor que não chova muito para não afastar                            a instrutiva crise. "Mas, se não chover muito                            em breve, vou parar de brincar: precisa                            chover."                           Projetos                           1.                              Entendimento das causas dos vieses que                              determinam o início da estação chuvosa na                              Amazônia nos modelos climáticos usando                              observações do GoAmazon e chuva (13/50538-7); Pesquisador responsável José Antonio                              Marengo Orsini (Cemaden);Modalidade Auxílio                              Regular a Projeto de Pesquisa – GoAmazon; Investimento R$ 57.960,00                              (FAPESP).                           2.                              Estabelecimento do modelo conceitual                              hidrogeológico e de transporte e destino de                              compostos organoclorados no aquífero                              fraturado da região de Jurubatuba, São Paulo                              (13/10311-3); Pesquisador responsável Reginaldo                              Antonio Bertolo (IGc-USP);Modalidade Auxílio                              Regular a Projeto de Pesquisa; Investimento R$                              502.715,27 (FAPESP).                           Artigos científicos                           MAKARIEVA,                              A. M. et al. Why does air                              passage over forest yield more rain?                              Examining the coupling between rainfall,                              pressure and atmospheric moisture content.Journal of Hydrometeorology. v. 15, n.                              1, p. 411-26. fev. 2014.                           MAKARIEVA,                              A. M. et al. Where do winds                              come from? A new theory on how water vapor                              condensation influences atmospheric pressure                              and dynamics. Atmospheric                              Chemistry and Physics. v. 13, p.                              1039-56. 25 jan. 2013.                           ESPINOZA, J. et al. The extreme 2014                              flood in South-western Amazon basin: The                              role of tropical-subtropical South Atlantic                              SST gradient. Environmental                              Research Letters. v. 9, n.                              12. 8 dez. 2014.                           WENDLAND, E. et al. Recharge                              contribution to the Guarani Aquifer System                              estimated from the water balance method in a                              representative watershed. Anais da Academia Brasileira de                              Ciências. no prelo.                           OLIVEIRA, P.                              T. S. et al. Trends in water                              balance components across the Brazilian                              Cerrado. Water                              Resources Research. v. 50, n.                              9, p. 7100-14. set. 2014.                         Por: MARIA GUIMARÃES  |               
  Baixar nosso App para              celular Para todas as plataformas

Basta clicar no link acima, ou, abrir a URL abaixo no seu "Celular" ou "Tablet", isso vai baixar o arquivo apk.
Após conclusão do download, instalar e Tap o aplicativo será instalado em seu dispositivo.
http://app.vc/digitalradiotv
***Digitalradiotv*** ... Muita informação, Música, e, Interatividade.




















