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sábado, 5 de janeiro de 2019

Chris Brown está de volta com single pop. Escute "Undecided"!


Cantor começa o ano com novidade para os fãs


Chris Brown lançou nesta sexta-feira (4) um novo single. Trata-se da dançante música, "Undecided".

Nesta faixa, Brown deixou a sonoridade R&B, mais presente em seus recentes lançamentos, de lado. No single, o cantor aposta em um som mais pop.

Em seu Facebook, o artista agradeceu aos fãs. "Obrigado a todos os meus fãs pelo seu infinito apoio todos esses anos. Eu sou humilde e estou agradecido de poder continuar criando para vocês, pessoal".

Escute a nova música no link abaixo:

https://youtu.be/hzQbp0q9X5M


por Vagalume.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Cientistas descobrem como a luz destrói membrana das células


A incidência de luz tem papel fundamental na alteração das células humanas. Um exemplo conhecido é a luz do Sol, que provoca desde o envelhecimento até o câncer de pele. Como isso ocorre, porém, ainda é algo pouco conhecido.

Mas agora pesquisadores conseguiram descrever, de maneira inédita, o mecanismo pelo qual a luz destrói as membranas lipídicas – que pode levar à morte das células. As futuras aplicações para a descoberta podem ser versões mais eficientes da chamada terapia fotodinâmica, usada contra alguns tipos de câncer e infecções bacterianas. Além disso, o conhecimento do mecanismo abre caminho para o desenvolvimento de protetores solares mais eficientes. 

Por ora, os pesquisadores conseguiram definir parâmetros para criar moléculas que sejam mais eficientes em danificar membranas, tornando as células mais suscetíveis à terapia fotodinâmica – em que a luz é usada para matar células cancerosas ou bactérias.

O trabalho, publicado no Journal of the American Chemical Society, é resultado do doutorado de Isabel Bacellar no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), no âmbito do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.

Parte do estudo foi realizado com bolsa de pesquisa no exterior.

"Mostramos que na hora de escolher um fotossensibilizador [substância que possibilita a conversão da energia da luz em dano à membrana celular] não adianta apenas olhar para o quanto ele gera de oxigênio singlete [espécie reativa de oxigênio], como tem sido feito até hoje", disse Bacellar, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Montreal, no Canadá.

"O oxigênio singlete é importante, mas no processo de dano em membrana descobrimos que o fundamental é o quanto o fotossensibilizador gera de aldeídos lipídicos [substâncias que abrem poros nas membranas e levam ao vazamento do conteúdo da célula ou de suas organelas]", disse.

"Quando se entende o mecanismo do dano na membrana, pode-se tanto desenvolver uma molécula mais eficiente para destruir a membrana de organelas, no caso de câncer ou de uma infecção bacteriana, quanto prevenir o dano que ocorre quando nos expomos à luz solar", disse Mauricio da Silva Baptista, professor do IQ-USP e coordenador do estudo.

Da manteiga à pele

Todas as células são envolvidas por uma membrana formada por uma camada dupla de lipídios que separa o interior do exterior. Os chamados fosfolipídios formam a base estrutural dessa camada e tendem a sofrer oxidações, que podem tornar as membranas permeáveis e provocar a morte celular. A indução dessas oxidações por luz pode aumentar expressivamente a extensão do dano aos lipídios.

"A oxidação lipídica ocorre mesmo no escuro, mas é maior quando tem luz. Como acontece com a manteiga, que tem lipídios e fica rançosa se ficar fora da geladeira por muito tempo. Isso é uma oxidação lipídica também", disse Baptista.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram um modelo experimental em que aplicavam dois fotossensibilizadores em uma membrana artificial feita com substâncias presentes na membrana das células. Os fotossensibilizadores foram o azul de metileno e o DO15. 

O DO15 mostrou um desempenho melhor, tornando as membranas mais permeáveis significativamente mais rápido do que o azul de metileno. Em seguida, os pesquisadores identificaram e quantificaram todos os produtos gerados da reação das membranas com os fotossensibilizadores, como hidroperóxidos, álcoois, cetonas e aldeídos fosfolipídicos.

O objetivo era entender o mecanismo pelo qual o DO15 foi mais eficiente em permeabilizar as membranas. O que se mostrou mais importante no processo foi um aumento significativo na produção de aldeídos.

"O oxigênio singlete, que era visto até então como o agente mais importante nesse processo, e o hidroperóxido têm sim uma importância. Mas o que mostramos nesse trabalho é que a produção de aldeído é o principal fator para destruir a membrana lipídica", disse Bacellar.

Agora, o grupo de Baptista e outros que colaboram com ele buscam desenvolver moléculas ainda mais eficientes que o DO15 para tornar a membrana das células mais suscetível à luz. Com isso, podem chegar a novos fotossensibilizadores para a terapia fotodinâmica.

O artigo Photosensitized Membrane Permeabilization Requires Contact-Dependent Reactions between Photosensitizer and Lipids (doi: 10.1021/jacs.8b05014), de Isabel O. L. Bacellar, Maria Cecilia Oliveira, Lucas S. Dantas, Elierge B. Costa, Helena C. Junqueira, Waleska K. Martins, Andrés M. Durantini, Gonzalo Cosa, Paolo Di Mascio, Mark Wainwright, Ronei Miotto, Rodrigo M. Cordeiro, Sayuri Miyamoto e Mauricio S. Baptista, está disponível em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/jacs.8b05014

Por André Julião  -  Agência FAPESP



quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Jovem professor do ITA recebe Prêmio José Leite Lopes de 2018


Maurício Tizziani Pazianotto foi o ganhador do Prêmio José Leite Lopes de 2018, concedido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF). A tese de doutorado "Transporte da radiação cósmica na anomalia magnética do Atlântico Sul e aplicação em aeronáutica", desenvolvida com bolsa da FAPESP, foi considerada pela SBF a melhor de 2016.

Professor no Departamento de Física do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Pazianotto, 31 anos, recebeu orientação de Brett Vern Carlson, do ITA, e coorientação de Odair Lelis Gonçalez, do Instituto de Estudos Avançados do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (IEAv/DCTA).

"O que fizemos foi modelar o perfil da radiação cósmica na anomalia magnética do Atlântico Sul, que cobre grande parte do nosso continente. Fizemos simulações das radiações primárias e secundárias e as comparamos com medidas colhidas no solo e por aeronaves. Os dados experimentais foram levantados por nós mesmos, em parceria com outros grupos, do país e do exterior, que fazem parte de nossa rede de colaboração", disse Pazianotto à Agência FAPESP.

Os dados referidos são emissões de nêutrons resultantes da interação dos raios cósmicos com a atmosfera terrestre. Foram levantadas quantidades em diferentes pontos do território brasileiro e em diferentes épocas, de 2009 a 2015. "Esse levantamento em diferentes épocas foi importante para certificar que a influência da atividade solar, considerada em nossas simulações, foi apropriadamente levada em consideração", explicou.

No passado, a anomalia estava situada acima do Atlântico. Mas ela vem se deslocando lentamente rumo ao Pacífico. Agora, seu epicentro localiza-se aproximadamente na região de Foz do Iguaçu. As causas do deslocamento ainda não estão de todo esclarecidas, mas basicamente decorrem do movimento do magma, que provoca alterações no campo magnético da Terra.

"Nosso principal interesse era saber se e como a anomalia poderia perturbar o campo de raios cósmicos primários e secundários em altitudes de voo. Para isso, desenvolvemos simulações computacionais considerando os efeitos das linhas do campo magnético terrestre na propagação da radiação cósmica na atmosfera", disse Pazianotto.

Por meio dessa pesquisa, foi possível evidenciar que a anomalia magnética do Atlântico Sul influencia a radiação cósmica de forma significativa para altitudes acima de 40 km. Como parte dos resultados, foi possível também mostrar que o nível de radiação incidente nas tripulações em altitudes de voos comerciais poderia exceder o limite recomendado para o público em geral.

"Essas partículas podem causar danos nos equipamentos eletrônicos, afetando, por exemplo, o funcionamento dos computadores de bordo e dispositivos eletrônicos das aeronaves. E podem prejudicar também os organismos de tripulantes e passageiros habituais", disse Pazianotto.

A exposição a nêutrons afeta não somente os aviões que cruzam a anomalia magnética do Atlântico Sul, mas os voos de maneira geral, tornando-se tanto mais relevantes quanto mais perto dos polos se encontrem as rotas. Essa linha de pesquisa nasceu no Instituto de Estudo Avançados, em São José dos Campos, em 2008.

O grupo do qual Pazianotto participa, formado por pesquisadores do IEAv e do ITA, é pioneiro no país no campo da dosimetria de radiação cósmica. Como resultado da tese agora premiada, foi desenvolvida a primeira modelagem capaz de realizar simulações do perfil da radiação cósmica desde o nível do solo até 100 quilômetros de altitude, com detalhamentos inéditos e aplicações em dosimetria aeronáutica.

"Uma nova pesquisa que iremos desenvolver – em parceria do ITA com o Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, o Instituto de Estudos Avançados, em São José dos Campos, e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – consiste em coletar amostras de sangue das tripulações para investigar danos genéticos e sua correlação com a dose recebida. A primeira fase desse projeto prevê realizar medições em voo em aeronaves militares em latitudes desde equatorial até polares, correlacionar os resultados com nossas simulações e avaliar seus efeitos genotóxicos", disse Pazianotto.



Por: José Tadeu Arantes  – Agência FAPESP

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Ministério do Desenvolvimento Social e ACNUR renovam acordo de cooperação.



Na segunda fase do processo de interiorização, 233 venezuelanos vivendo em Boa Vista foram levados a São Paulo e Manaus. Foto: ACNUR

O ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, assina nesta sexta-feira (28) a renovação do acordo de cooperação do MDS com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) para garantir acesso aos direitos sócio-assistenciais de refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil em situação de vulnerabilidade e risco. O vice-representante da ACNUR no Brasil, Federico Martínez, estará presente.

O convênio, vigente desde agosto de 2018, permite o gerenciamento das medidas de identificação, recepção e acolhimento, incluindo orientação dos cidadãos que atravessam a fronteira, cadastro de pessoas e atendimento social nos postos e abrigos temporários em vários estados do país.

Na solenidade, também será lançado o livro "Pátria Mãe gentil", com fotos do processo de interiorização de venezuelanos no Brasil.

As imagens foram produzidas por profissionais de Ministério do Desenvolvimento Social, ACNUR, Presidência da República e Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

O livro é composto por três capítulos, que envolvem as fases de chegada na fronteira, acolhida nos abrigos e interiorização, incluindo as viagens de Roraima para outros estados e a adaptação dessas pessoas nas comunidades locais.

A resposta humanitária a refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil é feita por meio da Operação Acolhida, que reúne as Forças Armadas, ministérios, agências do Sistema ONU no Brasil e entidades da sociedade civil organizada.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Bolsa Família, Previdência e funcionalismo: a divisão do dinheiro

Ministério da Fazenda mostra que parcela mais rica fica com maior fatia dos gastos com aposentadorias e pessoal. Secretaria de Previdência reforça importância de fatia destinada aos mais pobres para redução da miséria Em fim de gestão, a equipe econômica do governo de Michel Temer segue em campanha pela aprovação da reforma da Previdência. O Ministério da Fazenda divulgou, no dia 5 de dezembro, um relatório chamado "Reformas econômicas em 2016-2018 e perspectivas para o próximo mandato presidencial". No documento, economistas do ministério fazem um raio-x das contas públicas, das realizações da equipe que foi chefiada por Henrique Meirelles e Eduardo Guardia e da principal frustração do período: a não aprovação da reforma da Previdência. Somando todos os tipos de aposentadoria, setor privado e público, urbano e rural, o governo federal desembolsou R$ 685 bilhões em 2017. Isso é mais da metade do Orçamento Federal e R$ 268 bilhões a mais do que o arrecadado com as contribuições previdenciárias no período. A grave situação fiscal do país, que vai fechar o ano com deficit primário pelo quinto ano consecutivo, e a projeção do crescimento das despesas devido a mudanças demográficas não são mais os únicos argumentos para a necessidade de se alterar as regras para se aposentar no Brasil. O texto aborda o atual sistema previdenciário brasileiro como um fator de concentração de renda. Por isso, segundo os dados divulgados pelo governo, reformar a Previdência seria também uma maneira de diminuir a desigualdade no Brasil. No modelo atual, ela atende mais aos que têm renda mais alta.

Por José Roberto Castro e Rodolfo Almeida


Leia na integra em: nexojornal.com.br/expresso/2018/12/12/Bolsa-Fam%C3%ADlia-Previd%C3%AAncia-e-funcionalismo-a-divis%C3%A3o-do-dinheiro

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Para alimentar salmão norueguês, soja brasileira desmata e explora trabalho escravo

Três empresas brasileiras que exportam concentrado de soja para a Noruega têm fornecedores que já foram flagrados com trabalho escravo, desmatamento ilegal e posse ilegal de terras

Principal produtora mundial de salmão, a Noruega compra do Brasil maior parte da matéria-prima usada para alimentar seus cardumes. Todos os meses, milhares de toneladas de proteína de soja concentrada saem dos portos brasileiros e cruzam dez mil quilômetros do oceano Atlântico rumo aos tanques de peixes do país nórdico. O problema é que essa cadeia de negócios da soja brasileira está marcada por crimes ambientais e trabalhistas.

Pelo menos três indústrias brasileiras que se destacam como as principais exportadoras de soja para a Noruega – Caramuru, Imcopa e Selecta – têm, entre seus fornecedores, fazendeiros que foram flagrados com trabalho escravo, desmatamento ilegal e conflitos de terra. Os crimes foram descobertos a partir de uma investigação realizada pela Repórter Brasil em parceria com as ONGs norueguesas Future In OurHands e Rainforest Foundation.

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Plantação de soja por entre regiões de mata nativa; empresas que exportam para a Noruega compram o grão de fazendeiros que já cometeram crimes ambientais. (Foto: Pedro Biondi)

Um dos problemas encontrados é a presença de fornecedores produzindo em áreas embargadas pelo Ibama por crimes ambientais. "Vemos pela primeira vez que a aquicultura norueguesa usa soja que pode estar ligada ao desmatamento", ressaltou o gerente geral da Rainforest Foundation, Øyvind Eggen, em reportagem sobre a pesquisa publicada pelo jornal  norueguês Dagbladet.

A investigação também identificou um caso de trabalho escravo em um fornecedor da C.Vale, cooperativa produtora de soja que vende para Imcopa, que por sua vez produz proteína de soja concentrada para a indústria de salmão na Noruega.

Em 2012, nove trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão na Fazenda Alto da Mata, de propriedade de Luiz Bononi e localizada em São José do Rio Claro, em Mato Grosso. Bononi forneceu soja à cooperativa C.Vale inclusive no período em que esteve na "lista suja" do trabalho escravo – documento do Ministério do Trabalho que lista os produtores flagrados com o crime. A lista é usada como referência por diversas empresas comprometidas em restringir relações comerciais com empregadores flagrados usando mão-de-obra escrava.

O fazendeiro Bononi não foi localizado pela reportagem.

Outro problema da C.Vale, segundo a investigação, é que ela estaria envolvida em casos de produção do grão em terras Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Segundo indígenas ouvidos pela Repórter Brasil, na Terra Indígena Panambizinho, o cultivo do grão acontece por meio de arrendamentos de terra para pessoas de fora da comunidade – arranjo considerado ilegal pelo Ministério Público Federal. O indígena e ativista de direitos humanos Anastácio Peralta, morador de Panambizinho, diz que o cultivo do grão é o maior problema atual da comunidade. Peralta afirma que a soja se tornou o principal cultivo das terras de Panambizinho, e que apenas três ou quatro famílias priorizam o plantio de itens alimentares.

A aplicação de agrotóxicos nas lavouras locais, diz ele, já afeta a qualidade do meio ambiente, inclusive prejudicando o plantio das roças orgânicas tradicionais. Para o indígena, a situação afeta a soberania alimentar na comunidade e incentiva o sedentarismo. "Antes o pessoal plantava, tinha sua rocinha, sua alimentação mais saudável. Hoje, a maioria só arrenda, não cultiva junto." O plantio destinado à C.Vale também se daria em fazendas reivindicadas como parte da Terra Indígena Dourados Amambaipeguá I.

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"Antes o pessoal plantava, tinha sua rocinha, sua alimentação saudável. Hoje, a maioria só arrenda", afirma o indígena e ativista de direitos humanos Anastácio Peralta, sobre os impactos do cultivo da soja nas comunidades Guarani e Kaiowá. (Foto: Pedro Biondi)

Sobre o caso do flagrante de trabalho escravo, a C.Vale afirmou que "legalmente não cabe à cooperativa fiscalizar terceiros sobre o cumprimento da legislação em vigor" e que "orienta e oferece treinamento aos associados sobre as legislações que envolvem a produção de grãos, entre as quais questões ambientais, trabalhistas e de segurança no trabalho". A Repórter Brasil também enviou perguntas à Imcopa sobre seu relacionamento comercial com a cooperativa e sobre os problemas identificados. A indústria, no entanto, não respondeu.

A C.Vale afirmou ainda que "não possui políticas para comercialização de insumos dentro de áreas indígenas". Sobre litígios de terra com grupos indígenas envolvendo cooperados, diz que "não pode interferir nesses conflitos, seja por não estar diretamente envolvida, seja por não deter atribuição legal para isso".

Quando a soja alimenta conflitos fundiários
Além de crimes ambientais e do flagrante com trabalho escravo, há conflitos fundiários e outros problemas trabalhistas na cadeia de produção das empresas que exportam soja para a Noruega.

Um dos fornecedores do grão para a Caramuru e a Selecta são os sojicultores Sadi Luiz Piccinin Júnior e seu pai, Sadi Luiz Piccinin. Em 2013, a Polícia Federal apreendeu agrotóxicos proibidos na Fazenda Serra Vermelha, controlada pela família Piccinin em Dom Aquino, no Mato Grosso. No ano seguinte, em uma outra fazenda da família, em Campos de Júlio (MT), o Ministério do Trabalho identificou 10 trabalhadores sem carteira assinada e a aplicação de agrotóxicos sem os equipamentos de proteção obrigatórios – uma grave ameaça à saúde dos funcionários.

"Agora vemos pela primeira vez que a aquicultura norueguesa usa soja que pode estar ligada ao desmatamento", ressaltou o gerente geral da Rainforest Foundation,  Øyvind Eggen

A família também esteve envolvida em um conflito por terras em Campos de Júlio. Piccinin Junior é acusado de ter ocupado ilegalmente, com seu pai, uma área localizada dentro do assentamento Nova Juruena. Ele é réu em uma ação movida por uma associação que representa os trabalhadores rurais.

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Um dos fornecedores da soja para a exportação foi flagrado com o uso de agrotóxicos não autorizados (Foto: Pedro Biondi)

Procurados, a Selecta e a família Piccinin não deram retorno às perguntas encaminhadas pela Repórter Brasil. A Caramuru disse que, a respeito do uso de agrotóxicos não autorizados pelo fornecedor, não participa do processo decisório sobre os produtos aplicados nas fazendas. Disse ainda que a responsabilidade quanto a isso "é do produtor, do vendedor de insumos, do técnico que faz prescrições, da empresa que fabrica e vende e do órgão regulador."

A empresa afirmou ainda que questões trabalhistas internas às fazendas fornecedoras requerem a fiscalização de órgão oficiais ou da sociedade civil, "de modo a identificar irregularidades". Sobre os conflitos fundiários, a Caramuru ressalta que "infelizmente não há uma fonte pública e oficial que permita consultar, de forma eficaz, consolidada e preferencialmente automatizada, os conflitos no campo". Além disso, alegou possuir uma "política robusta e procedimentos rigorosos" para aprovar compras de grãos de acordo com critérios ambientais, que incluem a consulta de dados de satélite sobre desmatamento recente e informações das fiscalizações do Ibama.

Certificação confidencial  
As empresas que exportam proteína de soja concentrada para a Noruega possuem certificação ProTerra, um selo de boas práticas voltado ao mercado de soja não-transgênica. Toda a produção vendida àquele país passa pelo crivo da certificação, já que a Noruega proíbe a importação de soja geneticamente modificada.

Além de garantir a origem não-transgênica da matéria-prima, o selo possui critérios de sustentabilidade social, ambiental e trabalhista. São feitas auditorias por amostragem na cadeia produtiva dos exportadores para garantir que as fazendas estão respeitando os padrões do certificado.

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Além de crimes ambientais e do flagrante com trabalho escravo, há produtores do grão envolvidos em conflitos fundiários. (Foto: pedro Biondi)

A Repórter Brasil entrou em contato com a ProTerra Foundation, organização responsável pelo selo, e perguntou se os sojicultores identificados pela investigação, envolvidos em crimes e conflitos socioambientais, eram produtores certificados. "A informação das fazendas auditadas é confidencial por cláusula contratual", informou por email Augusto Freire, chairman da ProTerra Foundation.

Sem dar nomes, a ProTerra afirmou ainda que apenas um dos sojicultores citados havia sido auditado nos últimos cinco anos. Na ocasião, não foram encontradas violações trabalhistas, de direitos humanos ou problemas ambientais, segundo a fundação.


Por: Por André Campos e Antônio Biondi

Saiu em: https://reporterbrasil.org.br/2018/11/para-alimentar-salmao-noruegues-soja-brasileira-desmata-e-explora-trabalho-escravo


Demanda mundial por papel higiênico amplia desmatamento no cerrado brasileiro


Produtores de eucalipto mudaram-se da Mata Atlântica para o cerrado, aumentando a grilagem de terras em comunidades indígenas e quilombolas e incentivando o desmatamento. A madeira produzida é comprada pela Suzano, que fabrica celulose e vende para grandes marcas internacionais

FORQUILHA, Maranhão – Durante décadas, dezenas de famílias viveram pacificamente na pequena comunidade de Forquilha, no interior do Maranhão. Ali, no sertão brasileiro, os moradores costumavam plantar sua comida e criar seus animais. Há cerca de sete anos, porém, um empresário abastado instalou-se na região e começou a converter a vegetação nativa em plantações de eucalipto. Se tudo corresse como o planejado, ele venderia as árvores para a Suzano, multinacional produtora de celulose e papel. É a gigante da celulose que alimenta grandes marcas internacionais, como a Kleenex, famosa por seus lenços de papel.

Em 2014, porém, Forquilha tornou-se uma cidade violenta. Homens armados que patrulhavam a cidade entraram ilegalmente nas casas das pessoas, destruíram móveis e ameaçaram matar moradores. Os bandidos vieram com uma mensagem: Renato Miranda, o empresário produtor de eucalipto, sempre fora dono daquelas terras e a comunidade teria invadido ilegalmente sua propriedade. Moradores foram informados de que tinham oito dias para arrumar seus pertences e sair.

"Ninguém sabia para onde ir, todos estavam apavorados, desesperados", lembra Antônia Luís Ramalho Lima, esposa e mãe de 54 anos que ainda mora em Forquilha.

A violência aumentou. Homens armados sequestraram pai e filho, levaram-nos para um rio próximo e ameaçaram assassiná-los – a não ser que a família abandonasse sua casa. Três idosos da comunidade morreram naquele ano; eles haviam sido ameaçados dias antes da morte. Não tendo para onde ir, moradores permaneceram em suas casas. Ainda hoje, muitos deles vivem deprimidos e com medo.

Por: Anna Sophie Gross, da Mongabay

Leia na íntegra em: https://reporterbrasil.org.br/2018/10/demanda-mundial-papel-higienico-amplia-desmatamento-no-cerrado-brasileiro

Usina que deu calote trabalhista tenta retomar terra ocupada por ex-funcionários há 20 anos


Mais de 450 famílias cultivam a terra de usina que faliu em 1996 sem pagar direitos trabalhistas; decisão judicial, que atende interesses de 'barão do café', pede saída dos agricultores

É feriado e dia de reunir a família em torno do fogão à lenha, mas o clima é de apreensão na casa de Dona Fezinha, como é conhecida a aposentada Maria da Fé Silva, 78. "A gente fica com medo", diz um dos genros, sem conseguir disfarçar os olhos marejados. Fezinha e outras 461 famílias do acampamento Quilombo Campo Grande, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), podem ser despejados a qualquer momento por conta de uma decisão judicial do último 7 de novembro.

Há duas décadas, eles vivem na antiga área da Usina Ariadnópolis, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, que faliu em 1996 sem pagar os direitos trabalhistas de seus funcionários. Sem trabalho, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ocuparam as terras da usina como forma de receberem as dívidas trabalhistas – e de ganharem a vida com o cultivo da terra.


Por Marcelle Souza. De Campo do Meio, Minas Gerais | 27/11/18


Leia na íntegra em https://reporterbrasil.org.br/2018/11/usina-que-deu-calote-trabalhista-tenta-retomar-terra-ocupada-por-ex-funcionarios-ha-20-anos


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Pesquisa investiga uso de canabidiol para reduzir sintomas de depressão



 – Os antidepressivos comerciais costumam demorar de duas a quatro semanas para promover efeitos significativos em pacientes deprimidos. Além disso, tais drogas são ineficazes em boa parte dos casos. Encontrar novos antidepressivos de ação rápida e duradoura é o objetivo de uma investigação colaborativa conduzida por cientistas do Estado de São Paulo e da Dinamarca. 

Eles observaram em estudo que uma única aplicação de canabidiol em ratos com sintomas depressivos apresentou efeitos muito significativos, com remissão de sintomas de depressão no mesmo dia e a manutenção dos efeitos benéficos por uma semana. 

O trabalho reforça estudos anteriores de que o canabidiol, um componente da maconha (Cannabis sativa), tem potencial terapêutico promissor no tratamento da depressão de amplo espectro em modelos pré-clínicos e humanos.

Resultados foram publicados em artigo na revista Molecular Neurobiology por pesquisadores do grupo liderado por Sâmia Regiane Lourenço Joca, professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP). 

A pesquisa, que teve como primeira autora Amanda Juliana Sales, bolsista de doutorado da FAPESP, também contou com o apoio da Fundação por meio de um Projeto Temático, do CNPq e da dinamarquesa Aarhus University Research Foundation.

As pesquisas com canabidiol estão ligadas ao grupo do professor Francisco Silveira Guimarães, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Participa ainda Gregers Wegener, professor no Departamento de Clínica Médica da Aarhus University. 

"O Brasil é pioneiro no estudo do canabidiol e hoje é muito diferente do que há 30 anos, quando começamos a investigar essa substância. Na época, enfrentávamos preconceito por causa da associação com a maconha", disse Guimarães à Agência FAPESP

Apesar de extraído da maconha, Guimarães ressalta que o canabidiol não produz dependência nem efeitos psicotrópicos. "A substância na maconha responsável por tais efeitos é o tetraidrocanabinol (THC) e com o canabidiol ocorre o oposto, ele exerce ação bloqueadora sobre alguns efeitos do THC", disse. 

A investigação dos efeitos do canabidiol visa encontrar fármacos com potencial antidepressivo que atuem mais rapidamente no tratamento, diminuindo o período de latência observado nos antidepressivos convencionais.

Guimarães observa que os antidepressivos disponíveis obtêm resultados em cerca de 60% dos pacientes, de modo que cerca de 40% dos pacientes permanecem sem receber o tratamento adequado, mesmo após tentarem diversas opções por vários meses. "Isso revela a necessidade de encontrarmos novos tratamentos, com melhor potencial terapêutico", disse. 

O experimento foi feito com linhagens de ratos e camundongos selecionadas por cruzamento para desenvolver sintomas de depressão. Foram feitos testes e analisado o comportamento de 367 animais. "Submetemos os animais a situações de estresse, como o teste de nado forçado", disse Joca, que também é professora visitante na Aarhus University.

Antes do teste, uma parte dos animais recebeu uma injeção de canabidiol (com dosagens de 7, 10 e 30 mg/kg) em solução salina, enquanto outra parte dos animais, o grupo de controle, recebeu apenas a solução salina.

Após 30 minutos, os animais foram colocados por 5 minutos em cilindros (25 cm de altura por 17 cm de diâmetro) com 30 cm de água (no caso dos ratos) ou 10 cm de água (camundongos). 

"Essas alturas impedem que eles apoiem a cauda no chão, forçando-os a nadar. No entanto, os animais aprendem a boiar após um tempo de nado e não se afogam. Quando estão boiando, os movimentos são mínimos, apenas para manter a cabeça fora da água e garantir que não se afoguem. É justamente isso que consideramos imobilidade, ou seja, quando param de nadar e boiam", disse Joca. 

"O teste de nado forçado é utilizado para avaliar o efeito de drogas antidepressivas, uma vez que todos os antidepressivos conhecidos diminuem o tempo de imobilidade durante o teste (aumentam o tempo de nado). Portanto, a diminuição do tempo de imobilidade nesse teste é interpretada como efeito 'tipo antidepressivo'", disse. 

Os cientistas constataram que o canabidiol induziu efeitos semelhantes a antidepressivos agudos e sustentados nos camundongos submetidos ao teste de nado forçado.

"No entanto, de modo a assegurar que esse resultado não seria decorrente apenas do aumento da atividade locomotora devido a um efeito psicoestimulante que levaria, por exemplo, os animais a nadarem mais, tivemos que realizar um controle de atividade locomotora", disse Joca. 

"Fizemos o teste do campo aberto, que consiste em colocar o animal para explorar livremente um ambiente novo, enquanto registramos sua atividade locomotora e exploratória. Para dizer que uma droga tem potencial efeito antidepressivo, ela deve ser capaz de reduzir o tempo de imobilidade (aumentar o tempo de nado) no teste do nado forçado, sem aumentar a atividade locomotora no campo aberto, pois isso indicaria que os efeitos no teste do nado forçado não seriam secundários a alterações inespecíficas de atividade locomotora", disse. 

Recuperação de circuitos neurais

A conclusão do trabalho foi que o tratamento com canabidiol induz efeitos rápidos e sustentados, que permanecem por até sete dias após uma única administração, em animais submetidos a diferentes modelos de depressão (incluindo modelos de estresse e modelos de susceptibilidade genética).

Os dados encontrados foram reproduzidos em três modelos animais diferentes, em laboratórios na FCFRP, na FMRP, ambos na USP, e na Aarhus University.

"Ao estudar os mecanismos envolvidos nesses efeitos, observamos que o tratamento com canabidiol induz rápido aumento dos níveis de BDNF [fator neurotrófico derivado do cérebro], uma neurotrofina importante para a sobrevivência neuronal e neurogênese, que é o processo de formação de novos neurônios no cérebro. Também foi observado no córtex pré-frontal dos animais o aumento da sinaptogênese, que é o processo de formação de sinapses entre os neurônios do sistema nervoso central", disse Sâmia Joca.

Sete dias após o tratamento, foi possível observar aumento do número de proteínas sinápticas no córtex pré-frontal, que está intimamente relacionado à depressão em humanos. "Diante disso, acreditamos que o canabidiol inicie rapidamente mecanismos neuroplásticos que contribuem para recuperar circuitos neurais que estão prejudicados na depressão", disse. 

Mas a atuação benéfica do canabidiol não se restringe ao córtex pré-frontal. "Em outro trabalho, demonstramos que o efeito do canabidiol também envolve mecanismos neuroplásticos que ocorrem no hipocampo, outra estrutura envolvida na neurobiologia da depressão", disse a professora da FCFRP-USP.  

Segundo ela, caso o resultado do estudo do uso de canabidiol em ratos venha a ser também observado em humanos, uma vez que o canabidiol já é usado em humanos para outros problemas de saúde, "pode resultar em avanço importante no tratamento da depressão, com possibilidade de ajudar pacientes que sofrem por semanas, muitas vezes com risco de suicídio, até que o tratamento funcione".

Estudos em humanos

No momento, os pesquisadores da USP em Ribeirão Preto investigam outros mecanismos envolvidos nos efeitos do canabidiol e seus efeitos em modelos animais de resistência aos tratamentos convencionais.

"Estamos estudando, por exemplo, se o canabidiol seria eficaz também em pacientes que não respondem à terapia convencional ou se quando associados a esses antidepressivos poderia haver melhora dos sintomas. Nesse sentido, em outro trabalho nosso que acaba de ser publicado na revista Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, demonstramos que o tratamento com canabidiol facilita a neurotransmissão serotoninérgica no sistema nervoso central, sendo que sua combinação com doses baixas de antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, como a fluoxetina, induz significativo efeito antidepressivo", disse Joca. 

"Portanto, há a possibilidade de que o tratamento combinado de canabidiol com inibidores da receptação de serotonina permita que esses sejam usados em menores doses, possivelmente diminuindo os efeitos adversos desses fármacos, mas mantendo o efeito terapêutico observado em doses maiores", disse à Agência FAPESP

Diante disso, os autores do estudo estimam que o canabidiol tenha potencial efeito antidepressivo para induzir resposta mais rapidamente do que os fármacos convencionais e que, quando associado a esses, seja capaz de melhorar a resposta dos antidepressivos. 

"Nossas evidências indicam que esses efeitos ocorreriam por induzir alterações neuroplásticas no córtex pré-frontal e no hipocampo, estruturas envolvidas no desenvolvimento da depressão. Como o canabidiol é usado em humanos para tratamento de outras condições médicas, acreditamos que possa ser estudado também em humanos, em um futuro breve, para o tratamento da depressão", disse. 

O artigo Cannabidiol Induces Rapid and Sustained Antidepressant-Like Effects Through Increased BDNF Signaling and Synaptogenesis in the Prefrontal Cortex (doi: https://doi.org/10.1007/s12035-018-1143-4), de Amanda J. Sales, Manoela V. Fogaça, Ariandra G. Sartim, Vitor S. Pereira, Gregers Wegener, Francisco S. Guimarães e Sâmia R. L. Joca, publicado na Molecular Neurobiology, pode ser lido em link.springer.com/article/10.1007%2Fs12035-018-1143-4

O artigo Antidepressant-like effect induced by Cannabidiol is dependent on brain serotonin levels (doi: https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2018.06.002), de Amanda J. Sales, Carlos C. Crestani, Francisco S. Guimarães e Sâmia R. L. Joca, publicado na Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, pode ser lido em sciencedirect.com/science/article/pii/S0278584618301167?via%3Dihub.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Mutações não hereditárias são principal causa de câncer de mama em mulheres jovens


 – Cerca de 80% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens, com idades entre 20 e 35 anos, podem ser causados por mutações somáticas – alterações genéticas nas células da mama que não têm origem hereditária. Foi o que constatou um estudo feito no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (LIM 24) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) com apoio da FAPESP.

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em mulheres – a estimativa é de 59 mil novos casos no Brasil em 2018 – e ocorre principalmente naquelas que têm mais de 50 anos e já se encontram na menopausa.

No entanto, 4,5% dos casos da doença acometem mulheres jovens, entre 20 e 35 anos de idade. Por ter diagnóstico mais difícil e ser pouco esperado, normalmente o tratamento nesses casos é iniciado quando a doença já está em estágio mais avançado e apresenta maior taxa de mortalidade que em mulheres mais idosas.

Nos resultados do estudo, publicado na revista Oncotarget, são destacados os dois fatores mais importantes para o câncer de mama: o hereditário, quando a pessoa herda uma mutação genética dos pais, que predispõe ao câncer; e as mutações somáticas, que ocorrem na célula da mama ao longo do tempo.

"Estudamos esse segundo fator, que descobrimos ser também o mais comum em mulheres jovens com câncer de mama e do qual pouco se sabe", disse Maria Aparecida Koike Folgueira, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e uma das autoras do artigo, resultado do trabalho de doutorado de Giselly Encinas, com Bolsa da FAPESP. O trabalho teve colaboração de pesquisadores do Icesp, da FMUSP, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), do Ontario Institute for Cancer Research (Canadá) e da University of Toronto (Canadá).

No estudo, foram analisados os casos de 79 pacientes do Icesp e IBCC com menos de 36 anos e diagnosticadas com câncer de mama. Treze pacientes (16,4%) apresentavam mutações germinativas nos genes BRCA1 e 2, que são alterações que têm a hereditariedade como base. O estudo identificou ainda outros genes herdados, que são menos comuns que o BRCA1 e 2.

Dos tumores não hereditários, oito (com expressão positiva de receptores de estrogênio, ou seja, subtipo luminal) foram submetidos ao sequenciamento do exoma – parte do genoma onde estão os genes que codificam proteínas – e integrados para análise a outras 29 amostras luminais existentes em outros bancos de dados.

"Dentre todos os tumores que acometem pacientes jovens, 25% são câncer de mama. É também o tipo mais comum em jovens. Há poucos estudos nessa área. Enquanto existem 2 mil tumores de mama sequenciados e disponíveis em bancos de dados, apenas 29 tumores (subtipo luminal) que acometem mulheres jovens tinham sido caracterizados. Nosso grupo sequenciou outros oito e analisamos os dados conjuntamente com os outros 29 já existentes", disse Folgueira à Agência FAPESP.

Com a análise dos dados, a equipe estabeleceu informações importantes sobre a ocorrência de câncer de mama causado por mutações somáticas em mulheres jovens. Folgueira explica que as células da mama, em especial, proliferam a cada ciclo ovulatório – proliferam e entram em apoptose (morte celular) –, o que faz com que elas tenham maior chance de uma mutação ao acaso.

"Mais de 40% dos casos estudados apresentaram mutação somática em gene que codifica proteína de reparo de DNA, ou seja, o surgimento do câncer veio de um problema em algum sistema de reparo de DNA, que se originou na própria célula da mama e não foi herdado", disse Folgueira.

BRCA1 e BRCA2

Mutações ocorrem o tempo todo, seja por metabolismo celular ou duplicação das células (replicação do DNA), entre outras causas. Tanto que cabe a uma enzima específica – DNA polimerase – criar duas cadeias de DNA idênticas, a partir de uma única molécula de DNA original. Porém, ela pode não ser muito fiel à cópia, gerando erros nessas replicações.

Para que o erro do DNA polimerase não passe adiante, existe ainda um sistema de reparos de DNA e, de acordo com o estudo feito no Icesp, 43% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens estão relacionados a mutações em genes desse sistema.

"Se a célula prolifera bastante ela tem mais chance de ter uma mutação ao acaso e é isso que parece ocorrer nos casos que estudamos", disse Folgueira.

O problema se assemelha aos casos de mutações genéticas hereditárias, onde o mais comum são alterações nos genes BRCA1 e BRCA2. Eles ficaram mundialmente conhecidos em 2013, quando a atriz norte-americana Angelina Jolie anunciou ter se submetido à mastectomia bilateral após ter descoberto, a partir de um exame com base no sequenciamento genético, que teria risco elevado de desenvolver câncer de mama.

"Os genes BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas importantes que participam do reparo do DNA. Quando esse sistema não funciona, esse DNA fica mais propício a sofrer mutações, e o acúmulo delas gera uma célula alterada, neoplásica, que pode desencadear o câncer", disse Folgueira.

Além de verificar que a hereditariedade não é a causa principal de câncer de mama em mulheres jovens, o estudo constatou que em torno de 50% dos tumores apresentam mutações somáticas patogênicas em genes que controlam a transcrição gênica e consequentemente a síntese proteica – mais problemática por ser uma função em que é mais difícil dizer se está associada à doença ou não.

"No estudo, encontramos também mutações patogênicas em genes associados à regulação positiva da transcrição gênica em 54% dos tumores", disse.

Para a pesquisadora, embora a descoberta não altere momentaneamente o tratamento e atenção à população de mulheres jovens, ela surge como uma indicação.

"Reparo de DNA é muito importante e um dos tratamentos no câncer de mama metastático, os inibidores da enzima PARP, por exemplo, é direcionado a pacientes com mutação germinativa em BRCA1 e BRCA2. Existem estudos clínicos em andamento para avaliar se este tratamento pode também beneficiar pacientes que apresentam mutações somáticas em outros genes de reparo, além de BRCA1 e BRCA2. Este seria o caso de cerca de 40% das pacientes jovens com câncer de mama luminal", disse Folgueira.

A descoberta também abre caminho para novas linhas de pesquisa. "É uma indicação importante que a maioria dos casos não seja por questões hereditárias. Ainda assim fica a pergunta se são de fato apenas mutações somáticas ao acaso. Desde que nascemos estamos expostos a tudo, não é? O câncer de mama é o mais frequente em mulheres e um dos motivos pode ser porque as células proliferam bastante e há mais chance de errar", disse à Agência FAPESP.

O artigo Somatic mutations in early onset luminal breast cancer (doi: 10.18632/oncotarget.25123), de Giselly Encinas, Veronica Y. Sabelnykova, Eduardo Carneiro de Lyra, Maria Lucia Hirata Katayama, Simone Maistro, Pedro Wilson Mompean de Vasconcellos Valle, Gláucia Fernanda de Lima Pereira, Lívia Munhoz Rodrigues, Pedro Adolpho de Menezes Pacheco Serio, Ana Carolina Ribeiro Chaves de Gouvêa, Felipe Correa Geyer, Ricardo Alves Basso, Fátima Solange Pasini, Maria del Pilar Esteves Diz, Maria Mitzi Brentani, João Carlos Guedes Sampaio Góes, Roger Chammas, Paul C. Boutros e Maria Aparecida Azevedo Koike Folgueira, pode ser lido em www.oncotarget.com/index.php?journal=oncotarget&page=article&op=view&path%5B%5D=25123.


Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP






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