
        As três universidades estaduais paulistas se uniram para        desenvolver novas métricas de avaliação de desempenho e        comparações internacionais. A ideia é criar um sistema digital de        uso comum, mantido pelos escritórios responsáveis pela gestão de        indicadores das três universidades. O sistema poderá avaliar com        maior precisão não só o desempenho, mas também impacto        socioeconômico, cultural e ambiental das universidades públicas.
        
        A cooperação entre Universidade de São Paulo (USP), Universidade        Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista        (Unesp) tem o objetivo de tornar as métricas de desempenho        interoperáveis, com auditoria prévia dos indicadores enviados para        comparações internacionais.
        
        A iniciativa tem apoio da FAPESP, no âmbito do projeto        "Indicadores de desempenho nas universidades estaduais paulistas",        vinculado ao Programa de Pesquisa em Políticas Públicas e renovado        até o ano de 2022.
        
        Liderado pelo professor da USP Jacques Marcovitch e pelo Conselho        de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), o        estudo tem como parceira a Secretaria de Desenvolvimento        Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
        
        A USP, por exemplo, já implantou um novo escritório para a gestão        de indicadores e está promovendo mudanças nos sistemas        tecnológicos de captação e disseminação de dados. A Unicamp está        reformando estruturas internas, com o objetivo de gerar dados que        possam ser usados em seu planejamento estratégico. Já a Unesp        implementa um plano multidisciplinar e de longo prazo para        analisar as relações possíveis entre o desempenho acadêmico e as        tendências evidenciadas pelos rankings.
        
        "Os rankings nas universidades se tornaram extremamente populares        não só entre acadêmicos, jornalistas, administradores de educação,        como também para a população em geral. Porém, eles são vistos sob        uma ótica bastante distorcida, como uma olimpíada global em que as        universidades estão competindo umas com as outras, em que se ganha        ou se perde posições", disse Marco Antônio Zago, presidente da        FAPESP, na abertura do II Fórum "Indicadores de Desempenho        Acadêmico e Comparações Internacionais: Impactos para a        Sociedade", realizado no dia 18 de outubro, no auditório da        Fundação.
        
        Para Zago, há um efeito indesejável criado pela profusão de novos        índices e indicadores. "É, portanto, nossa responsabilidade, como        universidades importantes, responder de maneira fundamentada ao        desafio de identificar indicadores de relevância e garantir        qualidade, levando em conta a heterogeneidade das universidades,        sua influência sob a cidade, o estado e o país", disse.
        
        Repensar a universidade
        
        O encontro também foi palco para o lançamento do livro "Repensar a        Universidade II: Impactos para a Sociedade", segunda publicação do        projeto, com artigos sobre avaliação de desempenho nas        universidades e que fixa novas métricas de desempenho para ampliar        sua presença em comparações internacionais com desdobramentos que        se cumprirão até 2022.
        
        "O projeto é fundamental, pois como universidade estamos sofrendo        ataques que nunca existiram em nosso país. É importante        entendermos essa motivação e também mostrar para a sociedade como        um todo o impacto socioeconômico das universidades. Isso só é        possível comunicando dados e mostrando resultados", disse Marcelo        Knobel, presidente do Cruesp e reitor da Unicamp.
        
        Respondendo por 33,8% de toda a produção científica nacional, o        complexo estadual paulista de ensino superior e pesquisa pretende        agregar ao projeto dados referentes às universidades federais, que        também estão abrindo seus escritórios de métricas (e-dados).        Estavam presentes no fórum reitores e representantes da        Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Universidade Federal de        Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Ceará (UFC) e        Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
        
        "Nenhuma universidade evolui, de fato, sem ser comparada a outras        na aferição de seus avanços. É preciso ser coletivo e promover um        movimento em favor da qualidade das instituições de ensino        superior no Brasil. A universidade contemporânea torna a        alteridade um de seus fundamentos", disse Marcovitch, que        ressaltou a iniciativa como um esforço, inédito no Brasil, para        construir uma política pública em busca de melhores índices de        excelência e novos espaços nas comparações externas.
        
        Ponte com a sociedade
        
        Para tanto, será oferecido um curso, em março de 2020, sobre        indicadores e métricas associados ao monitoramento do desempenho        acadêmico e comparações internacionais. Entre as próximas ações do        projeto está o foco na digitalização.
        
        "Ao longo do projeto, temos visto o impacto da digitalização de        conteúdos e do papel das universidades não só como geradora, mas        também como curadora de conhecimento", disse Marcovitch.
        
        O papel de curador das universidades foi ressaltado na palestra de        Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento da sociedade        civil Todos Pela Educação. Cruz defendeu a necessidade da        universidade não só na formação de professores, mas também nos        resultados de pesquisa necessários para a formulação de políticas        públicas baseadas em evidências.
        
        "Ninguém diz que educação pública de qualidade não é importante.        Mas, de forma contraditória, não temos dado a ela a devida        prioridade. Precisamos sair da retórica, fortalecendo pontes com a        universidade para, a partir da produção acadêmica, auxiliar os        governos a produzir soluções prementes na educação. Assim será        possível construir um país justo no campo da educação, mas com um        reflexo muito forte na economia, na distribuição de renda e na        garantia de outros direitos", disse Cruz.
        
        Um exemplo histórico de ponte criada entre a universidade e um        setor socioeconômico está na área agrícola. Em um dos artigos que        constituem o livro, Solange Santos e Rogerio Mugnaini, da Escola        de Comunicação e Artes (ECA-USP), analisaram a produção das três        universidades públicas paulistas entre os anos de 2007 e 2016. No        período, houve aumento da internacionalização de 44% para 64% nas        ciências agrárias. Os dados foram medidos a partir de artigos        publicados nas plataformas Scielo e Web of Science.
        
        De acordo com Santos, a formação de capital humano e de        conhecimento ocorre principalmente nas universidades. "É uma área        prioritária para o país, por sua relevância social, impacto        econômico e ambiental. Até a década de 1980, o país era um grande        importador de alimentos e passou a ser uma grande potência        produtora. Nossos resultados mostram que o Brasil alcançou isso        graças à pesquisa e à formação de capital humano – fatores que        estão fortemente ligados às universidades – em uma área cujo        impacto social, econômico e ambiental é muito grande", disse        Santos.
        
        A publicação mostra também o impacto da pós-graduação da USP na        qualidade de outras universidades com a análise de dados dos mais        de 50 mil egressos, entre 1970 e 2014. Os resultados revelam que        52% são docentes em universidades do Brasil ou do exterior. "No        caso da UFABC, 52% dos docentes são egressos da USP. Na Unesp são        40% e, na Unicamp, 34%", disse Aluísio Segurado, coordenador do        Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico        (Egida) da USP.
        
        De acordo com Teresa Atvars, coordenadora-geral da Unicamp, os        novos indicadores e métricas devem representar para a universidade        uma ferramenta de disciplina para a tomada de decisão. Na        comparação entre instituições, ela sublinha, também é preciso        levar em conta o contexto e o modus operandi que diferencia cada        universidade.
        
        "No caso da Unicamp, trata-se de uma universidade abrangente em        ensino, pesquisa e extensão e com um impacto enorme na área da        saúde. Dessa forma, a análise não pode estar fundamentada apenas        em dados objetivos, mas também em informação qualitativa", disse.
        
        Para Sabine Righetti, coordenadora acadêmica do Ranking        Universitário Folha (RUF), as universidades trabalham com métricas        diferentes. "As universidades são muito diferentes entre si e os        rankings olham todas elas como se fossem a mesma coisa. No        entanto, é importante que isso não aconteça para que não se corra        o risco de políticas públicas equivocadas", disse.
      
Por: Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP







      
      



      