Quando existe uma suspeita de câncer o principal exame para confirmar o diagnóstico é a biópsia. Este procedimento consiste da retirada de um pequeno pedaço do tumor para a análise em laboratório.

O método para a retirada deste pequeno fragmento do tumor depende do local onde o tumor está. Por exemplo; quando o tumor se encontra na mama ele pode ser biopsiado com uma agulha, para a retirada deste pequeno pedaço; quando o tumor está no estômago ou no intestino é necessária a realização de endoscopia ou colonoscopia; tumores no pulmão podem ser biopsiados através de agulhas pela pele ou por dentro dos brônquios.

A biópsia dos tumores da mama pode ser feita por agulhas.

 

Os procedimentos de biópsia são considerados seguros, no entanto trazem algum desconforto. Por vezes é necessário ser feito com a pessoa sob anestesia, e sempre existe o risco pequeno de sangramento ou dor no local da biópsia. No entanto são exames essenciais, tanto para saber exatamente qual é a doença como para a escolha do melhor tratamento.

O exame de endoscopia pode ser usado para a realização de biópsias.

 

Com o avanço dos conhecimentos sobre o câncer compreendemos que as doenças são diferentes, as doenças variam de pessoa a pessoa. Câncer de mama hoje é visto como 4 grupos de doenças (leia mais aqui), com o avanço das pesquisas descobrimos que existem diversas mutações em câncer de pulmão que podem mudar a escolha do tratamento (leia mais aqui), existem mutações em melanomas que podem ser alvo de medicamentos (leia mais aqui), assim como em câncer de ovário (leia mais aqui e aqui). E isto ocorre em todas as doenças que antes classificávamos apenas como câncer. Para detectar essas características sempre é necessária a biópsia.

Ao longo dos anos descobrimos também que não só as doenças são diferentes entre pessoas diferentes, mas a doença da mesma pessoa muda ao longo do tempo. Por isso que os medicamentos funcionam num momento inicial e depois param de funcionar. Se retirarmos fragmentos do tumor de uma pessoa depois que o medicamento para de funcionar nós podemos notar novas alterações, que não estavam presentes no começo da doença. O problema é que não podemos retirar um fragmento de cada tumor a cada momento que os medicamentos parem de funcionar. Imagine uma pessoa que tem um câncer de intestino que tem metástases no fígado, ossos e pulmão, como nós faríamos para retirar um fragmento de cada uma dessas doenças? Seria muito arriscado e desconfortável para essa pessoa, e talvez não conseguíssemos detectar a mutação responsável pela resistência ao tratamento. Então como descobrir o que está acontecendo?

Uma alternativa que já está disponível para pessoas com câncer de pulmão é a biópsia líquida. Este exame nada mais é que uma avaliação do sangue a procura dos sinais de mutações do câncer. Nós sabemos que existem variações no material genético (o DNA) das células cancerígenas que são diferentes do material genético das células normais. Conforme o câncer vai crescendo algumas células cancerígenas morrem e seu DNA cai no sangue. Hoje nós dispomos de técnicas para avaliar se existem mutações de câncer no sangue de pessoas que estão em tratamento.

A biópsia líquida consiste da pesquisa de mutações do câncer presentes no sangue do paciente.

 

O exame hoje pode ser utilizado para pessoas em tratamento para câncer de pulmão que tenham a alteração conhecida como mutação do EGFR. Caso o primeiro tratamento contra o câncer pare de funcionar nós podemos fazer um exame de sague procurando pela mutação T790M. Caso ela esteja presente já existe um medicamento oral, conhecido como osimertinib, capaz de atacar esta mutação com grandes chances de controle da doença (leia mais aqui).

No futuro é possível que tenhamos exames de sangue para praticamente todas as doenças, isso evitaria a necessidade de se repetir as biópsias, proporcionando mais conforto e um melhor tratamento contra o câncer.